capitulo 5: Corações em Conflito (parte 3)
Helena olhou para o teste de gravidez com um misto de insegurança e medo, sentindo-se pequena diante da situação. O futuro parecia incerto, e uma onda de ansiedade tomou conta dela. Sabia que não estava sozinha; teria o apoio incondicional de seus pais e de seu namorado Otávio, mas uma gravidez nesse momento não era algo que ela havia planejado ou imaginado para a sua vida. Ela nunca se sentiu tão vulnerável. parou por alguns minutos, encarando o teste sobre a pia, tentando organizar seus pensamentos e controlar o turbilhão de emoções. O tempo parecia passar mais devagar. Ela suspirou lentamente, fechando os olhos por um instante, como se procurasse equilíbrio. Sua respiração estava entrecortada, e cada segundo parecia pesar ainda mais. Finalmente, com mãos trêmulas, retirou o teste do copinho, o coração batendo forte no peito enquanto ela se preparava para ver o resultado. A ansiedade estava no auge, e ela sabia que, ao olhar para aquele pequeno dispositivo, sua vida poderia tomar um rumo diferente.
Helena olhou para o pequeno dispositivo branco e azul em suas mãos, observando a fitinha vermelha que indicava o resultado. Sua respiração ficou suspensa por um momento. Ao reconhecer o "negativo", um alívio imediato e um peso estranho caíram sobre ela. "Não estou grávida", murmurou baixinho, a voz embargada, como se estivesse tentando convencer a si mesma de que tudo estava bem. Era um sentimento que somente as mulheres poderiam entender — a mistura de alívio e, ao mesmo tempo, uma pontada de vazio. Embora ela não quisesse estar grávida naquele momento, a frustração tomou conta de seu peito. Ela já sabia como Otávio reagiria a essa notícia, e a ideia de que algo entre eles poderia mudar a fazia sentir uma certa perda. uma lágrima escorreu de seu rosto, sem aviso, e ela a enxugou rapidamente, mas a tristeza inexplicável persistia. Enquanto acariciava sua barriga, um suspiro profundo escapou de seus lábios. "Não está na hora... mas eu ainda quero me casar e formar uma família com o amor da minha vida", pensou, a esperança misturada com um leve arrependimento, como se ela já soubesse que, mesmo sem a gravidez, o futuro ainda guardava muitas escolhas a serem feitas.
Helena abriu a porta do banheiro, ainda com o peso do teste em sua mente, e se dirigiu ao quarto para se vestir. Escolheu uma roupa leve de algodão, a maciez do tecido oferecendo um leve conforto, mas não suficiente para acalmar a turbulência em seu peito. Sentia-se angustiada, como se uma parte de si estivesse em desacordo com o restante. Calçou uma sandália rasteira e, com um suspiro, seguiu em direção à sala onde Sebastiana estava.
Quando entrou, viu a figura acolhedora da babá, que sempre foi como uma segunda mãe para ela. A saudade e o carinho fizeram com que o peso da situação se tornasse ainda mais evidente. Helena caminhou até ela, seus olhos tímidos, e, sem palavras, a abraçou com força, como se quisesse se entregar ao aconchego e à proteção que Sebastiana sempre ofereceu.
:_ oi meu amor
Helena, com a voz baixa, quase inaudível, disse:
:_ o teste deu negativo
As palavras saíram de sua boca como um alívio, mas a tristeza em seu olhar não podia ser disfarçada. Sebastiana, percebendo a dor silenciosa da jovem, a puxou para mais perto e começou a acariciar seus cabelos, oferecendo um consolo silencioso.
Sebastiana olhou para Helena com um sorriso suave, mas cheio de ternura , Ela a abraçou mais forte, sentindo a dor silenciosa que Helena tentava esconder, e com um toque gentil em seus cabelos, disse:
:_ oh , meu amor, você tem toda a vida pela frente. Sei que, no momento certo, Deus vai enviar para as nossas vidas uma criança... um anjo do Senhor
Helena balançou a cabeça, concordando com a afirmação de Sebastiana. Com a mão trêmula, secou a lágrima que descia involuntariamente de seu rosto. Ela deu um sorriso tímido, como se tentasse convencer a si mesma de que estava tudo bem, embora não conseguisse entender por que o resultado do teste de gravidez a deixava tão abatida. Afinal, uma gravidez não estava em seus planos. Beijou o rosto de Sebastiana com carinho e, em um tom baixo, disse
:_ estarei no meu quarto ,Tiana
Ao perceber que sua sobrinha estava cabisbaixa, Mercedes convidou Luísa para acompanhá-la em um café. Luísa, que desde que chegara do trabalho parecia distante, carregava no olhar uma insegurança cheia de dúvidas. Ainda usando o uniforme do supermercado onde trabalhava, ela vestiu um short jeans para se sentir mais confortável no calor intenso típico daquela época do ano no interior. Nos pés, um chinelo baixo para aliviar o cansaço dos longos turnos em tênis apertados. Mercedes observava a sobrinha enquanto preparava o café. Conhecia Luísa como ninguém, desde pequena até se tornar uma jovem cheia de sonhos. E sabia que ela nunca conseguia disfarçar o que sentia; Luísa era uma daquelas pessoas cuja verdade transbordava nos olhos, mesmo quando tentava esconder. Ao vê-la tentando forçar um sorriso — que mais parecia um reflexo da tristeza —, Mercedes suspirou, já imaginando que algo estava errado.
:_ Luly , minha filha
Ao ouvir a tia chamando-a pelo apelido que mais gostava, Luísa se aproximou da cozinha. Seu sorriso era tímido e apagado, quase inexistente, mas ela não queria preocupar Mercedes.
:_ oi tia
:_ não tomou café desde que chegou
:_ Ah, não... Estou sem fome
:_ por acaso foi lanchar com seu namorado ?
:_ Não, não. Mas vou sair mais tarde e não quero estar cheia.
Mercedes sorriu de leve, entendendo a desculpa, mas não insistiu. Pegou duas xícaras e se aproximou da mesa.
:_ estou passando um café pra nós duas. Senta um pouco comigo. Como estão as coisas no trabalho?
Mercedes sabia conduzir uma conversa sem ser invasiva, especialmente com Luísa, que tinha o hábito de fechar-se quando estava preocupada.
:_ ah , tá tudo bem. O supermercado é puxado, mas tenho todos os meus direitos na carteira. E, bom, aqui em São Jorge não tem muitas oportunidades, então...
Luísa deu de ombros, tentando soar conformada.
Mercedes observou a sobrinha enquanto colocava açúcar nas xícaras. Não reconhecia mais aquela jovem que, tempos atrás, era cheia de sonhos e energia. Desde que Luísa conhecera Victor, algo parecia ter mudado. Era evidente que ela o amava e que ele a fazia feliz em muitos momentos, mas a insegurança que ele transmitia estava corroendo-a pouco a pouco.
:_ é verdade filha, Mas, se algum dia você quiser tentar algo fora daqui, ou até mesmo fazer uma faculdade, mesmo que seja a distância, saiba que seus pais, eu, e claro, seu tio, vamos te apoiar em tudo.
Luísa sorriu, sentindo o conforto das palavras da tia, mas suspirou logo em seguida, um suspiro pesado, carregado de pensamentos. Mercedes percebeu o gesto e decidiu aproveitar o momento antes que a sobrinha pudesse encerrar o assunto.
:_ mas mesmo assim, ainda há algo no seu olhar, Luly. Não parece só cansaço físico... seria algo emocional?
:_ não, tia, que isso. Talvez seja o calor. Ainda não me acostumei
Mercedes não acreditou na explicação. Conhecia Luísa bem demais para aceitar aquilo como verdade. A sobrinha sempre amou o calor, as praias, as piscinas. Preferia os dias quentes aos frios, e jamais reclamava das altas temperaturas. Enquanto soprava a xícara de café recém-passado, Mercedes manteve o tom acolhedor, mas direto
:_ Não sei, Luly. Você é uma menina tão radiante e adora esse clima. Me parece que não é o calor... É uma questão do coração, talvez?
Luísa , em silêncio, mexia a colher na xícara, espalhando o açúcar mecanicamente, tentando evitar a conversa. O silêncio, no entanto, dizia mais do que qualquer palavra, e Mercedes, atenta como sempre, aproveitou o momento para ir direto ao ponto.
:_Às vezes, te vejo distante, meu amor, com um olhar carregado de insegurança. Você sabe que não sou de “pisar em ovos”. Prefiro ser franca. prefiro ser franca. Luly, você está feliz com esse rapaz? Ele realmente te faz feliz?
Luísa parou de mexer a colher, deixando-a repousar na borda da xícara. O som do café sendo mexido deu lugar a um silêncio pesado, cheio de dúvidas e emoções que ela tentava esconder.
:_ é claro que estou feliz com o Victor, tia. Ele é o homem que eu amo
:_ isso eu sei, filha, que você o ama. Mas... ele te faz feliz?
:_ sim, tia. O Victor é especial, maravilhoso. Eu sou muito feliz com ele, sem dúvida alguma
:_ mesmo você jurando isso, Luly, não consigo ver segurança nas suas palavras. É a verdade, minha filha. Hoje, quando você chegou, estava nítido que algo tinha acontecido. E se não foi no trabalho... bem, só restou o Victor.
As palavras de Mercedes caíram como um peso sobre Luísa. No fundo, ela sabia que a tia estava certa. Era difícil admitir, até para si mesma, que a sombra da paixão que Victor havia sentido por Ana Beatriz ainda pairava entre eles. Um fantasma que a atormentava, corroendo sua segurança e alimentando suas dúvidas. Sem saber como rebater, Luísa buscou uma saída, tentando contornar a situação.
:_ não é nada disso, tia. Eu tô muito bem e muito feliz. Eu amo o Victor e adoro estar com ele, de verdade.
Antes que a tia pudesse dizer algo, continuou
:_ sabe quem eu vi hoje no mercado ?
Mercedes inclinou levemente a cabeça, observando a sobrinha com atenção. O desvio repentino de assunto era evidente. Conhecia bem aquele jeito de Luísa tentar fugir de conversas desconfortáveis. Ainda assim, decidiu respeitar o momento, percebendo que insistir poderia afastá-la.
:_ Quem, minha filha?
Depois de uma tarde conversando com a irmã, Bruno decidiu colocar o celular para carregar, preocupado em não ficar sem bateria à noite. Ao ligar a tela inicial, notou uma notificação no aplicativo WhatsApp: o nome "Gabriela Araújo" brilhava na tela. Uma onda de calor tomou conta de seu peito. O coração disparou repentinamente, suas mãos começaram a tremer, e sua boca secou no mesmo instante. Era como se o tempo parasse por alguns segundos. Era um texto simples, cordial, mas mesmo assim o fez perder o fôlego. Ele ficou parado, encarando aquelas palavras, enquanto seus olhos se voltavam involuntariamente para a foto de perfil. Gabriela. Seu primeiro amor. O cabelo avermelhado que ele jamais esqueceria, os olhos intensos que pareciam guardar segredos e, claro, aquele sorriso tímido que um dia havia preenchido seus dias com luz. Uma saudade esmagadora apertou seu coração, trazendo de volta memórias que ele julgava ter superado. "Ah, que saudade daquele sorriso..." pensou, enquanto sentia o coração quase saltar pela boca. Ainda incerto sobre a verdade e a possibilidade de ser o pai da pequena Cecília, Bruno finalmente tomou coragem. Depois de horas, — digitou uma resposta simples, tentando manter a cordialidade, mesmo que seu coração gritasse por mais: ´´ oi, boa noite´´ Enviou a mensagem e, ao fazê-lo, sentiu uma mistura de alívio e nervosismo. O silêncio que se seguiu do outro lado apenas aumentava a confusão de seus sentimentos.
Catarina estava em sua casa em São Paulo, o notebook aberto sobre a escrivaninha, enquanto traçava cuidadosamente suas estratégias. Ali, longe dos olhares de Helena e do ambiente formal de trabalho, ela finalmente permitia que sua verdadeira face emergisse. Com os olhos fixos na tela, navegava por sites de moda, observando vestidos luxuosos, joias deslumbrantes e bolsas de grife. Cada clique era acompanhado por um pensamento ambicioso: logo, muito em breve, ela seria uma Nunes, esposa de Luiz Fernando. Finalmente teria tudo o que sempre sonhou. "Não vejo a hora de deixar aquele shopping de vez," pensou, apertando os lábios em um sorriso de satisfação. Trabalhar ali era um fardo que carregava apenas por necessidade financeira, mas isso estava prestes a acabar. Seus planos eram claros: assim que casasse, pediria demissão, livrando-se do ambiente que desprezava. Ela recostou-se na cadeira por um momento, permitindo que os pensamentos a dominassem. Planejava engravidar no primeiro mês de casada. "Nada prende um homem mais do que um filho," refletiu, os olhos verdes brilhando com malícia. Enquanto deslizava o cursor pela tela, analisando possíveis opções para o vestido perfeito do noivado, murmurou para si mesma: — Tive que aceitar o noivado antes do casamento, mas, sinceramente, preferia que tudo acontecesse de uma vez. Ainda assim, será um evento importante. Patrícia e Pilar vão ter que me engolir, vendo Luiz Fernando me pedir em casamento novamente, dessa vez diante de toda a sociedade. Soltou um riso maquiavélico, sua expressão iluminada pelo brilho da tela. A ideia de mostrar sua ascensão e superioridade para aquelas que, no passado, haviam duvidado dela, era um combustível poderoso.
De repente, o som de uma vibração interrompeu seus pensamentos. O celular, esquecido sobre a escrivaninha, exigia sua atenção. Catarina levantou-se, ajustando os cabelos, e pegou o aparelho para ver quem estava tentando contatá-la.
Após ouvir o conselho de Sebastiana, Helena finalmente começou a entender o que estava sentindo. Talvez fosse um momento conturbado, cheio de emoções conflitantes, especialmente desde o seu retorno a São Paulo. Mas ela sabia que estava no caminho certo, lutando por seus objetivos com determinação. Com um sorriso suave nos lábios, ela recordou o motivo pelo qual estava ali, naquele momento: aproveitar o final de semana com seus pais e Otávio. Não queria deixar que nada interferisse nesse tempo precioso. E, mais do que tudo, ela sabia que, após o casamento, teria todo o tempo do mundo para realizar o sonho de ter um filho com Otávio. Porém, algo que ela ainda não imaginava era que um boato começava a tomar força em São Jorge, sua cidade natal. A ideia de que ela estaria esperando um filho já se espalhava pelos cantos da cidade. Infelizmente, em um lugar pequeno e cheio de curiosos, onde todos se conheciam, especialmente ela, pertencente à famosa família dos Reis, as notícias — ou rumores — corriam como fogo. E, como sempre acontece em cidades pequenas, esse boato traria mais problemas do que ela poderia prever.
Helena pegou o secador que estava guardado e separou uma escova de cabelo e um spray protetor térmico, começando a secar as mechas que, embora já estivessem quase secas naturalmente, exigiam um toque cuidadoso. Mexa por mexa, ela sentia o cheiro floral do seu shampoo, um aroma suave que a acalmava e fazia com que o momento se tornasse quase terapêutico. Após secar todo o cabelo, ela usou uma presilha de borboleta para prender o topo da cabeça, deixando as ondas caírem naturalmente, criando um visual que transparecia sensualidade e descontração ao mesmo tempo. Ainda era cedo para começar a se maquiar ou se vestir, então decidiu se sentar à frente do computador e colocar uma música para tocar, algo suave, para acompanhar seu momento de preparação. Enquanto a melodia preenchia o ambiente, o som das notificações dos aplicativos de mensagem cortou a calma. Ela olhou rapidamente e percebeu que havia uma nova mensagem do professor João. Helena suspirou profundamente, sentindo um incômodo familiar. A insistência dele, sempre presente, a incomodava de maneira desconfortável. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia negar que havia algo em sua forma de abordá-la que a instigava, despertando emoções que ela preferia ignorar. Ela olhou para a tela do celular por um momento, seu olhar vacilando entre o desejo de ignorar a mensagem e a curiosidade crescente sobre o que ele diria desta vez. "Já sei, vou falar com a Maitê, ela sempre me ouve e me ajuda." Helena pensou, sentindo uma leveza ao decidir que poderia contar com sua amiga para dividir o que estava sentindo. Maitê era muito mais que uma amiga de trabalho ou de faculdade, era uma verdadeira confidente, alguém em quem Helena confiava plenamente. Em muitos momentos, ela se sentia como um anjo da guarda, sempre pronta para ajudar, independente da situação. Helena sabia que, por mais que tivesse um carinho especial por Catarina, era em Maitê que ela encontrava o refúgio para suas emoções mais profundas. As situações desconfortáveis que havia percebido envolvendo Catarina não passavam despercebidas para ela, mas, por gostar muito da menina, tentava ignorar os sinais evidentes de inveja e manipulação narcisista que Catarina frequentemente demonstrava. Porém, a lealdade de Maitê sempre foi um alicerce sólido para Helena, e isso a fazia sentir que, ao menos nela, poderia confiar sem reservas.
Helena ligou para Maitê, que atendeu prontamente com um sorriso caloroso, mesmo que a tela do celular não escondesse totalmente a leve tristeza em seus olhos. As duas sempre mantiveram uma conexão especial, e mesmo à distância, faziam questão de participar da vida uma da outra. Ao atender, Maitê percebeu de imediato que Helena estava abatida, mas, respeitando o silêncio da amiga, preferiu não insistir. No entanto, Helena também notou algo diferente em Maitê, como se uma sombra de melancolia estivesse pesando sobre sua voz. Depois de alguns minutos de conversa sobre assuntos corriqueiros, Maitê, num suspiro, deixou escapar
:_ Eu achei que estivesse tudo bem, mas acho que ainda não consegui esquecer completamente o meu amor pelo Nando...
Helena apertou o telefone com força, tentando escolher bem as palavras antes de responder. Sabia o quanto aquele sentimento machucava a amiga, especialmente com o noivado de Fernando e Catarina se aproximando.
:_ Tenho medo, sabe? Medo de nunca conseguir amar o Gustavo do jeito que ele merece. Ele é tão bom comigo, Lele... mas parece que tem algo em mim que simplesmente não consegue seguir em frente.
O silêncio entre as duas foi preenchido por um entendimento mútuo. Ambas carregavam suas próprias dores e dilemas, mas sabiam que, juntas, poderiam enfrentar qualquer coisa.
Após alguns minutos de conversa animada e cheia de trocas de apelidos carinhosos, Helena e Maitê finalizaram a ligação com a promessa de um encontro na segunda-feira. Planejaram um almoço no shopping para colocar a conversa em dia, seguido de um milk-shake. Maitê brincou com um sorriso:
:_ e temos que provar um milk por que já faz tempo que não fazemos isso
Helena riu, respondendo:
:_ kkkk amiga tomei tanto sorvete e comi tanta coisa aqui em são Jorge que vou precisar urgente de uma dieta
:_ kkkkk! Nem sonha, você tem um corpo lindo e sempre come coisinhas saudáveis. Um final de semana comendo besteirinhas não muda nada, continua uma deusa.
:_Modéstia à parte, temos boa genética, e você também está maravilhosa, minha gatinha. Amei o corte do cabelo!
:_ Fui hoje no salão para hidratar, e a cabeleireira sugeriu cortar um pouco. No começo fiquei receosa, mas até que gostei do resultado.
Maitê disfarçou o rubor em seu rosto. Apesar do elogio sincero da amiga, sua baixa autoestima sempre a fazia se sentir aquém, principalmente por conta dos sentimentos que guardava em segredo por Luiz Fernando. A presença de Catarina em sua vida intensificava essas inseguranças, já que ela sempre fazia questão de demonstrar sua suposta superioridade.
Helena, percebendo que Maitê estava mais confiante, aproveitou para incentivá-la:
:_ e tem razão , Mai. Você está uma gatinha demais! Vai sair hoje, né?
:_ sim, combinei com a Nara de sairmos em casal
Helena, desconfiada, perguntou com cuidado:
:_ Ela vai com aquele rapaz do pré-vestibular?
:_ Sim, estão juntos. Acho engraçado chamarem o Felipe de "do pré-vestibular", considerando que ele já deveria estar terminando a faculdade, mas fazer o quê?
Helena tomou um gole de água de coco, deixando o líquido refrescante aliviar o calor do fim de tarde. Olhou para o relógio e percebeu que finalmente era hora de se arrumar para encontrar Otávio. O dia, apesar de cheio, parecia ter passado lentamente, como se cada hora trouxesse uma enxurrada de acontecimentos que a deixavam mentalmente exausta. Ela suspirou, recostando-se na cadeira da varanda. Em suas reflexões silenciosas, revisitou os eventos das últimas horas: o confronto direto com Estevão, o desentendimento tenso com Ana Beatriz, e, por fim, o turbilhão de emoções ao encarar o resultado do teste de gravidez. Seu coração parecia pesar um pouco menos agora, mas ela sabia que precisava de mais tempo para processar tudo. "Eu deveria ficar mais dias aqui", pensou enquanto olhava para o horizonte, onde os tons alaranjados do pôr do sol abraçavam a paisagem da fazenda de seus pais.
Aquele lugar, com suas árvores balançando suavemente ao vento e o canto distante dos pássaros, era seu refúgio. Um pedaço de paz e sossego, longe da agitação incessante de São Paulo e das pressões do cotidiano. Ali, Helena se sentia acolhida, como se as paredes da casa paterna guardassem a força de todas as gerações que vieram antes dela.
Levantou-se com calma, guardando aquele momento em sua mente como quem guarda um tesouro. Era hora de deixar as preocupações para trás, mesmo que por algumas horas. Hoje à noite, ela queria estar inteira para Otávio, sem sombras de dúvidas ou medos. Ainda que o futuro lhe reservasse desafios, agora ela precisava viver o presente.
Helena entrou no banheiro e deixou a água fria da ducha deslizar por sua pele, aliviando o calor abafado do fim de tarde. O contraste entre a temperatura fresca da água e o calor que dourava sua pele clara trazia um alívio imediato, enquanto ela sorria ao lembrar-se da manhã e da tarde de sábado, quando se deixou levar pelo sol sem perceber que, em vez do bronzeado que desejava, acabara ficando levemente avermelhada. Depois de se secar com a toalha macia, seguiu para o quarto, onde puxou uma cadeira diante da penteadeira. O espelho refletia sua beleza natural, e ela sentiu uma satisfação discreta ao notar o brilho saudável de sua pele. Com o cuidado de sempre, começou a se arrumar. Sabia que, em São Jorge, a simplicidade era o charme. Queria estar impecável, mas sem exageros que destoassem do estilo do lugar. Primeiro, aplicou um hidratante leve para suavizar a pele que sofria com o clima seco e quente da estação. Em seguida, ajeitou as sobrancelhas com precisão, valorizando seu olhar marcante. Passou um blush delicado nas maçãs do rosto, destacando o rubor natural que já despontava devido ao calor do dia. Uma camada sutil de máscara de cílios realçou seus olhos brilhantes, enquanto um batom rosado completava o visual, deixando seus lábios ainda mais atraentes. Helena se observava enquanto trabalhava nos pequenos detalhes, a música suave ao fundo criando uma trilha sonora tranquila para o momento. Quando terminou, sorriu para o reflexo, satisfeita com o equilíbrio perfeito entre elegância e naturalidade.
:_ estou linda!
Aplicou na pele um hidratante suave que prometia proteger do calor intenso e deixá-la envolta em uma fragrância leve de flores, trazendo frescor e delicadeza ao mesmo tempo. Em pontos estratégicos — como pulsos, colo e atrás das orelhas —, espalhou com cuidado um creme hidratante de aroma docinho, perfeito para complementar o perfume que já havia separado para a ocasião especial. Helena sorriu ao abrir o pequeno frasco de vidro do perfume escolhido. Era um aroma envolvente, feminino, e carregava consigo memórias de momentos felizes. Sabia que em breve seu amor viria buscá-la, e queria estar perfeita para a noite que passariam juntos.
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