sábado, 14 de dezembro de 2024

Corações Invencíveis - 2 temporada

    capitulo 5:  Corações em Conflito (parte 5)  



Nina estava em casa com seu marido, Salvador, depois de uma longa viagem. Quando entrou na sala, percebeu que sua caixa de entrada estava cheia de mensagens não lidas, e seu WhatsApp também vibrava com notificações. Ao olhar o nome de Ana Beatriz em várias mensagens, Nina revirou os olhos, incomodada. "Que garota irritante e insistente", pensou, quase frustrada com a insistência de Ana Beatriz, que sempre sabia como invadir seu espaço. 
Salvador estava no escritório, imerso em algo no computador, completamente alheio à quantidade de mensagens que sua esposa estava recebendo. Nina suspirou e se aproximou dele, decidida a afastar qualquer pensamento que a incomodasse. Ela estava deslumbrante naquele momento: vestia um vestido preto de alcinha, de tecido leve que se ajustava perfeitamente às suas curvas, desenhando a silhueta de seu corpo com delicadeza. Seus cabelos ainda estavam molhados e exalavam um cheiro suave e fresco, destacando os fios dourados pelas luzes que ela tinha feito recentemente. Seus olhos esverdeados, sempre intensos e expressivos, brilhavam com um toque de sedução. 
Ela se aproximou de Salvador, que levantou o olhar do computador ao perceber a presença dela. Seu sorriso foi instantâneo, e ele se levantou rapidamente para recebê-la.
:_ meu amor
:_ oi minha rainha
ao dar-lhe um beijo nos lábios. Ele puxou Nina para seu colo com suavidade, a abraçando com intensidade, como se o mundo lá fora não existisse mais.
:_ já passou da hora de sair desse computador, amor 
:_ eu se, minha rainha, só estava checando alguns e-mails 
:_ que tal sairmos um pouco ? para quebrar esse tédio
Salvador olhou para ela, mas sua expressão revelou o cansaço que carregava. 
:_ oh,  meu amor, eu adoraria... mas me sinto tão cansado depois da viagem. Dirigir cansa, você sabe como é. 
Nina suspirou , irritada com a negativa dele, mas procurou manter a paciência. 
:_ eu sei , meu amor... Mas poderíamos ir de táxi. A cidade está bem movimentada, e... 
:_ bem, Santiago saiu e não sei, meu amor... ainda teria de tomar um banho, poderia acabar ficando tarde 
Nina, com um olhar travesso e um sorriso encantador, se aproximou dele e disse, em um tom suave: 
:_ eu posso ajudar nessa parte 
Salvador pareceu hesitar por um momento, a exaustão ainda evidente em seu rosto. No entanto, a vontade de agradá-la e o brilho no olhar dela começaram a superar seu cansaço. Ele a observou por um instante, percebendo o esforço dela em animá-lo, e um sorriso suave se formou em seus lábios. 
:_ sendo assim podemos ir , Afinal, eu tenho uma esposa linda e gostosa que não merece passar o final de semana em casa.

Nina aguardou até ouvir o som da porta do banheiro se fechando para finalmente permitir que sua irritação tomasse conta. Não se casara com Salvador por amor. Na verdade, o casamento nunca foi sobre sentimentos. Sua decisão foi movida por um interesse bem mais prático: as condições financeiras de Salvador, que garantiriam a ela uma vida sem as dificuldades que enfrentava até então. Antes, trabalhava como secretária para Estevão, um emprego que apesar de ser bem remunerado não era o que ela desejava para sua vida Sabia que casar-se com Salvador era sua chance de escapar daquela realidade.
Apesar de ele ser um homem bonito, atraente e jovem, nada disso conseguia acender em Nina uma verdadeira paixão. Ela reconhecia suas qualidades físicas, mas o que realmente a motivara era o conforto que ele poderia lhe proporcionar, não os sentimentos que ela poderia desenvolver por ele.


Helena e Otávio estavam em uma barraca, conversando e experimentando alguns quitutes regionais enquanto apreciavam a apresentação de um artista local na festa. O ambiente vibrava com música e risadas, e Helena, com um sorriso nostálgico, comentava como tudo estava bonito. Sentia saudade daquele lugar acolhedor, familiar, e das lembranças que ele trazia. Otávio, sem perder tempo, aproveitou a oportunidade para fazer um pedido que havia na sua mente há algum tempo. Olhou-a nos olhos, sorrindo, enquanto beijava sua mão, o rosto e o pescoço da amada. 
:_ então fica para sempre aqui amor?
Ela sorriu, sentindo o calor das carícias, e respondeu, brincando: 
:_ me olhando desta forma assim tão perto , é bem capaz de eu ficar
:_ era o que eu mais queria nessa vida amor, ter você para sempre aqui , te ver todo dia aqui como era antes e nos casarmos ter nossos filhos
Ao ouvir essas palavras, um nó apertou a garganta de Helena. Ela lembrava do teste de gravidez que fizera mais cedo, cujo resultado fora negativo. A dor da decepção ainda estava fresca, e o desejo que ela compartilhava com Otávio parecia tão distante agora. Ela suspirou e, para se acalmar, passou a mão no rosto dele, acariciando seu cabelo dourado pelo sol. Ela se aproximou e beijou seus lábios com ternura, antes de sussurrar, com um sorriso suave, tentando afastar a tristeza: 
:_ eu tenho certeza que nossos filhos vão ser lindos e muito amados


Ana Beatriz estava sozinha em casa, sentada à frente do computador, com os fones de ouvido, como já era de costume. Olhava o celular, mas não havia nenhuma atualização, nenhuma mensagem. O tédio a dominava por completo. Sua vida, sempre solitária, parecia mais pesada a cada dia. Havia se afastado de Inês, sua melhor amiga, e não conseguia suportar mais a solidão. O relacionamento com sua mãe estava longe de ser bom, ainda marcado pelas últimas brigas e desentendimentos, e, como se isso não fosse o suficiente, naquela tarde, se desentendera com o pai.  Ela soltou um longo suspiro, de puro tédio, enquanto passava os olhos pelas páginas de internet, navegando sem entusiasmo por sites de compras e outros conteúdos aleatórios. Decidiu então olhar o WhatsApp, mas não havia resposta alguma de Nina. O tédio parecia se intensificar, crescendo a cada minuto que passava, e ela não sabia o que fazer para escapar daquela sensação.
Ela passara uma tarde tranquila, desabafando com seu irmão Bruno, mas ele já havia saído com Inês. "E se eu saísse também?" pensou, uma ideia que começava a fazer sentido. "Já estou acostumada a ficar sozinha, então não seria problema algum sair e tentar descansar a mente um pouco."  Com essa decisão, Ana Beatriz se levantou e se dirigiu até o guarda-roupa. Parou em frente a ele por um momento, observando as roupas penduradas. Com cuidado, começou a retirar algumas peças, analisando-as uma a uma. Ainda frustrada com a ideia de querer mudar o guarda-roupa, mas sem poder pedir dinheiro aos pais, Ana Beatriz sentia uma crescente insatisfação. Estevão estava furioso desde que soubera da paixão da filha por Otávio, e ela não estava falando com Joane, sua mãe. A relação com os dois estava tensa, o que só aumentava seu sentimento de impotência. A cada peça que pegava, ela soltava um suspiro de desânimo. Antes, seu guarda-roupa era composto por roupas com estampas coloridas e até um pouco infantis para a sua idade. Mas, desde que Otávio começara a namorar Helena, ela se sentia cada vez mais insegura e inferior. Comparava-se à nova namorada dele, uma mulher confiante e cheia de estilo. Ana Beatriz, então, começou a se vestir de forma mais sensual, mais provocante, tentando se transformar na imagem que achava que poderia atrair a atenção do homem por quem se apaixonara. Ela acreditava que, se mudasse sua aparência, talvez fosse vista por ele de uma maneira diferente, quem sabe até despertando um interesse que parecia tão distante. 
Ana Beatriz escolheu uma mini saia jeans, do tipo que estava habituada a usar, e uma camisa que ainda trazia a etiqueta, com um estilo que lhe parecia mais ousado e que, de certa forma, refletia a nova persona que ela tentava construir. Fica em dúvida sobre o que calçar: uma sandália, uma bota ou o mesmo All Star que usava sempre. Ela olhou para os sapatos, pensando em como cada escolha poderia transformar seu visual. ´´vou colocar esse all star mesmo´´ decidiu, por fim, enquanto se olhava no espelho, analisando como a combinação de roupas a fazia se sentir. Talvez o All Star não fosse a opção mais ousada, mas era confortável e familiar. Ela se sentia mais ela mesma com aquele tênis. 


Bruno havia levado Inês para sair, aproveitando a oportunidade para passar um tempo a sós. Desde a situação tensa no jantar, quando Gabriela apareceu de surpresa com Cecília nos braços, o casal não havia tido mais momentos tranquilos e verdadeiramente bons juntos. A tensão entre eles ainda pairava no ar, mas Bruno estava decidido: ele queria continuar ao lado de Inês e lutar pelo amor deles, mesmo que as dificuldades se acumulassem.  Inês estava radiante, vestindo um modelo delicado que sua mãe havia preparado especialmente para ela. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo simples, mas elegante, e seus pés calçavam uma sandália bonita que ela comprara com o último pagamento, um pequeno prazer que a fazia se sentir mais confiante. Bruno não pôde deixar de notá-la com admiração, sentindo uma mistura de carinho e esperança ao vê-la tão linda, como se a visão dela lhe desse forças para enfrentar os desafios que o relacionamento ainda enfrentava. 
Em uma mesa um pouco afastada do barulho da multidão, Bruno observava a namorada, admirando sua beleza. Inês, por sua vez, tentava manter a alegria, mas sua expressão denunciava uma inquietação que não conseguia esconder. Ela estava preocupada com o futuro — com Gabriela, Cecília e a possível paternidade de Bruno. Sabia que seus pais não iriam gostar ao descobrir que ele já tinha uma filha. Inês sentia um nó na garganta só de pensar como as coisas poderiam se complicar. O relacionamento deles sempre foi desafiador, especialmente por Inês não ser uma menina rica, e os pais de Bruno sempre foram muito rígidos quanto a essas questões. Agora, com essa nova notícia, tudo parecia ainda mais difícil de lidar, uma surpresa que a pegou desprevenida e que aumentava sua apreensão. 
Para quebrar o silêncio tenso, Bruno tentou iniciar uma conversa. 
:_ tive uma conversa com a Bia hoje atarde
:_ ah é, e como ela está ?
:_ ela não está bem e é difícil como irmão eu ve-la tão mal, se nega a enxergar a realidade e me preocupa demais, conversamos sobre a vida no geral, ela se sente muito sozinha 
:_ é muito dificil mesmo eu entendo, a Beatriz está muito mudada e pelo bem dela seria bom procurar um profissional 
:_ eu já falei isso com ela, mas ela é teimosa
Inês compreendia a gravidade da situação de Ana Beatriz. A cada dia que passava, ela parecia estar pior, e os pais continuavam negligenciando a sua saúde mental. Inês queria ajudar, mas a quebra de confiança entre elas, como antigas amigas, ainda era um obstáculo difícil de superar. Ela sabia que, por mais que desejasse fazer algo, a relação delas estava distante demais para que qualquer gesto fosse recebido com a receptividade necessária. 
:_ sua mãe poderia conversar com ela. A Dona Joane, além de mãe, é profissional da saúde. Ela teria uma forma mais delicada de tentar trazê-la para a realidade. 
:_ eu acho que elas tiveram uma discussão esses últimos dias , pude perceber o clima na minha casa não está dos melhores
:_ a Beatriz precisa conhecer pessoas, sair , fazer amizades e até mesmo arrumar um namorado 
:_ ontem ela conheceu um carinha , porém não sei quem é ele 
:_que bom meu amor e ela saiu com ele hoje ?
:_ não, ela estava trancada no quarto quando eu sai 
:_ posso marcar de sair com ela essa semana. A gente pode tomar um sorvete, um refri, colocar o assunto em dia. 
Inês apertou sua mão de forma carinhosa, transmitindo segurança e apoio 
:_ faria isso por mim ?
:_ claro que sim meu amor. E não só por você, mas por sua irmã também. Eu e a Bia já fomos muito amigas, e por mais que nossa amizade esteja meio... balanceada, no momento, bem, nunca é tarde para corrigir nossos erros. 
:_ a Bia é muito dependente da amizade da Nina 
Inês levantou uma sobrancelha, surpresa por ouvir aquele nome. 
:_ Nina?
:_ Nina Mariz , ela trabalhava com meu pai, mas essa amizade não me cai bem. Bia se tornou dependente da opinião dessa moça 
percebeu que a conversa havia ficado tensa e tentou mudar de assunto, aproveitando a oportunidade para falar sobre algo mais leve. Ela sorriu, tentando trazer um pouco de descontração ao momento. 
:_ eu te contei ?
Bruno olhou para ela, um pouco confuso, mas interessado. 
:_ não sei meu amor, me diga
Inês deu um sorriso alegre e continuou, mais entusiasmada. 
:_ Heleninha nos convidou para uma festa na capital! Um baile de máscara agora no carnaval. E ela deixou o seu convite comigo. 
:_ e seus pais deixaram você ir ?
Inês relaxou um pouco, vendo que Bruno se preocupava, mas estava mais tranquila com a situação.
:_ sim, bem, vou estar com meu irmão, então está tranquilo para eles. Além disso, vamos ficar na casa dos avós da Helena, o que facilita.
:_ bem, podemos ir então. Porém, preciso configurar meu GPS para termos mais segurança, não quero correr o risco de nos perdermos por lá. 
:_ Ela disse que vai nos buscar na rodoviária, caso a gente se sinta inseguro de ir de carro , o Tavinho e eu nunca viajamos para são Paulo 


Salvador levou Nina até um local que eles costumavam frequentar, um lugar tranquilo e acolhedor. O clima estava agradável e fresco, e a vista era simplesmente deslumbrante. A música, suave e envolvente, tocava ao fundo, criando uma atmosfera perfeita para um momento a dois. O cardápio era composto pelos pratos favoritos de Nina, algo que Salvador sabia que a faria se sentir especial. Ele, embora estivesse fisicamente cansado e mentalmente sobrecarregado, decidiu sair com ela naquele momento, buscando agradá-la e proporcionar-lhe uma noite memorável. Afinal, ele ainda não havia conseguido encontrar funcionários de confiança para a empresa, e as preocupações estavam pesando sobre seus ombros. Mesmo assim, ele fazia de tudo para cuidar dela e garantir que ela se sentisse realizada. 
:_ você tá linda , minha rainha 
:_ obrigado meu amor , eu adoro esse restaurante 

Otávio, com um sorriso convidativo, estendeu a mão para Helena e a puxou suavemente para a pista de dança. Ela hesitou por um momento, um pouco receosa, pois quase toda a população de São Jorge estava ali, e a atenção das pessoas podia ser desconfortável. No entanto, ao olhar para o rosto de Otávio, ela deixou a timidez de lado. Com um suspiro, levantou-se, entrelaçando os dedos com os dele, e começou a dançar. A música era suave e envolvente, e Helena se movia com uma graça natural, acompanhando o ritmo com facilidade. Seu rosto, suavemente corado, exibia um sorriso radiante, que parecia iluminar ainda mais a noite, fascinando Otávio a cada segundo. Ao redor deles, outros casais dançavam, mas nada parecia importar mais para Otávio do que estar ali, com Helena. Ele observava, encantado, como ela, apesar de ser uma moça da capital, com boas condições financeiras, valorizava profundamente a cultura do interior. Helena sempre fazia questão de estar presente em cada momento, se entregando de corpo e alma ao que a rodeava, com uma simplicidade que a tornava ainda mais especial para ele.  Otávio se perdia nos detalhes: o brilho nos olhos de Helena, da cor do mar, que refletia a luz suave do ambiente. O cabelo dela, com as pontas levemente onduladas, se mexia ao ritmo da dança. E, de vez em quando, ela cantarolava baixinho, quase como se fosse uma melodia só para eles dois. 
Ele não pôde deixar de sorrir, admirando a mulher à sua frente. Com os olhos brilhando de carinho, ele a puxou um pouco mais para perto e, em um sussurro suave, disse:
:_ você, sem dúvida nenhuma, é a mulher mais linda de todo o mundo, de todo o universo, meu amor. 
Helena sentiu o calor das palavras de Otávio, e seu sorriso se alargou, enquanto ela o olhava com carinho, completamente imersa naquele momento especial. 
As qualidades de Helena iam muito além da sua beleza exterior. Era claro que sua aparência encantava todos ao seu redor, mas o que realmente apaixonava quem a conhecia era sua essência. 
Otávio, completamente envolvido por ela, sentia-se abençoado por tê-la ao seu lado. Ele amava cada parte de Helena, desde o brilho no olhar até a profundidade de seus pensamentos. Quando ele a olhava, via além da mulher encantadora, via uma pessoa que sabia cativar com sua presença, que irradiava luz e que conseguia tornar o mundo à sua volta mais bonito. 
Helena, tocada pela sinceridade de Otávio, olhou-o nos olhos com uma expressão cheia de carinho e, com um sorriso doce, disse: 
:_ você é o homem mais lindo do mundo todinho, meu amor. E além de lindo, é o homem mais amado, sem dúvidas nenhuma. Meu cowboy 



Ana Beatriz  saiu sozinha de casa, com a desculpa de que encontraria uma amiga. Avisou Paulina, que não questionou mais, embora soubesse que a jovem estava cada vez mais distante. Mas a verdade era que ela não tinha mais amizades; as poucas que restaram se desfizeram com o tempo. A solidão a envolvia cada vez mais, e, com o peso do vazio em seu peito, ela decidiu sair. Carregando uma bolsa tiracolo, ela caminhava sem rumo certo, buscando um lugar com gente, na esperança de encontrar algum rosto familiar ou talvez alguém novo que pudesse preencher a lacuna que ela sentia dentro de si. O simples fato de sair, mesmo sem saber para onde, parecia ser a única maneira de escapar de sua própria mente.  Enquanto andava, seus pensamentos começaram a se voltar para Victor. A imagem dele a assombrava, e uma onda de arrependimento tomou conta dela. Lembrou-se de como tinha sido imatura, de como havia deixado aquele relacionamento escapar por entre seus dedos. A raiva de si mesma crescia a cada passo ."O que eu fiz? Tudo poderia ter sido diferente, eu poderia ter investido em nós, mas joguei tudo fora... por causa de Otávio... que insiste em ficar com aquela piranha loira." Ela bufou, sentindo um aperto no peito. A verdade lhe machucava mais do que ela queria admitir. Otávio, o mesmo Otávio, sempre presente na sua mente e nos seus pensamentos, continuava com Helena, enquanto ela se via presa em uma rede de erros e escolhas malfeitas. E agora, sozinha, refletindo sobre o que poderia ter sido, Ana Beatriz sentia o peso da sua decisão. A raiva não era mais voltada para Otávio, mas para si mesma. Ela sabia que a culpa era sua, e o arrependimento era quase insuportável. ´´ E o pior é que agora ela pode estar esperando um filho dele, e o terá para sempre. Eu nunca vou me perdoar por perdê-lo, ainda mais para aquela garota." Os pensamentos de Ana Beatriz eram como lâminas afiadas, cortando sua alma a cada palavra que ecoava em sua mente. 
Com o peso dessas reflexões, Ana Beatriz caminhava, sem realmente prestar atenção ao caminho, até que seus pés a conduziram até o parque. Era ali que acontecia o evento anual de São Jorge. 

Victor estava no evento com Luísa, mas sua mente não estava totalmente ali. Embora estivesse rodeado de amigos e da festa de São Jorge, ele não conseguia se concentrar nas conversas, no barulho ou nas risadas que vinham de todos os lados. A sensação de estar no lugar errado, fisicamente presente, mas emocionalmente distante, o consumia. Ele forçava um sorriso, tentando disfarçar os próprios sentimentos, mas a crise interna que vivia era inegável. A indecisão o atormentava, e ele sentia uma atração por Ana Beatriz que, apesar de tudo, não conseguia apagar. Mesmo com o tempo que passou, os sentimentos por ela ainda estavam lá, uma chama que se recusava a se apagar completamente. Victor se sentia culpado. A crise de consciência falava mais alto em sua mente, como um grito silencioso, lembrando-o do que estava em jogo. Ele sabia que Luísa, sua namorada, não merecia essa confusão em sua vida. Ela sempre foi fiel, amorosa e carinhosa com ele, oferecendo-lhe tudo o que ele poderia querer em um relacionamento. Ela merecia alguém que a amasse com a mesma intensidade e sinceridade que ela demonstrava, e ele, infelizmente, não conseguia corresponder a esse amor da maneira que ela merecia. Ele não se apaixonara de forma completa por ela, e isso o deixava em um dilema constante. 
Luísa então questionou o namorado 
:_melhorou da enxaqueca ?
Victor, que tentava manter a calma, forçou um sorriso, mas a expressão de Luísa não passou despercebida. Ele se sentiu mais uma vez dividido, tentando esconder o turbilhão de emoções que sentia por dentro. 
:_ não... quer dizer, melhorei sim , tomei um bom banho e estou bem 
No entanto, o sorriso de Victor era falho, como se houvesse algo mais por trás das palavras que ele estava dizendo. Luísa observou atentamente o rosto dele, mas não disse nada de imediato. 
Ao perceber o olhar atento de Luísa, e a decepção sutil estampada em seu rosto, Victor sentiu um aperto no peito. Era impossível esconder o que estava acontecendo dentro dele, mas ele não queria preocupá-la. Não queria que ela visse a bagunça emocional em que estava se afundando. Então, sem pensar muito, segurou a mão de Luísa, tentando demonstrar carinho, e forçou um sorriso, buscando mudar de assunto. 
:_ está muito bom esse ano, tá gostando gatinha?
:_ realmente está muito bonito e bem organizado 
Victor, percebendo o esforço dela para manter o clima agradável, se aproximou dela e, com um gesto carinhoso, deu um selinho nos lábios da namorada. Seus dedos deslizaram suavemente pelo rosto de Luísa, acariciando sua pele com ternura, na tentativa de confortá-la, de mostrar que, apesar de tudo, ele se importava com ela. Não era justo deixá-la insegura, não era justo fazê-la sofrer por algo que ele sabia que não era culpa dela. Victor segurou a mão de Luísa com firmeza, e, enquanto a observava, um pedido silencioso escapou de seus lábios. Ele fechou os olhos por um instante, e em seu coração, rogou aos céus que conseguisse, finalmente, esquecer Ana Beatriz. Ele sabia que não poderia continuar com essa incerteza, essa confusão.



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