capitulo 5: Corações em Conflito (parte 8)
Em são Paulo, Pilar conversava com a mãe sobre as preocupações de Leo a respeito de Vera. Ela temia que a sogra, com sua obsessão por Renato e Helena, pudesse colocar o plano a perder. Patricia, por sua vez, tentava orientar a filha, mas achava injusto que essa responsabilidade recaísse sobre Pilar, em vez de Leo, que era filho de Vera. Além disso, temia que, em um surto de fúria, a sogra pudesse fazer algo contra Pilar ou até contar para Fernando sobre o plano envolvendo o noivado.
:_ sua sogra deveria procurar um homem da idade para se relacionar... Não que eu tenha algo contra, mas se esse rapaz aprontou tanto com a Helena, que ainda é jovem e linda...
Pilar assentiu, concordando com o comentário da mãe, mas logo acrescentou com uma expressão de preocupação.
:_ Vera sempre soube que ele é um michê, que só estava com ela por interesse no dinheiro dela... E mesmo assim, continuou com isso, o que ela chama de namoro. Acabou se apegando a ele.
:_ eu não entendo, ela é uma mulher rica e bem sucedida
:_ Eu também não entendo, mãe... E o pior de tudo é que o Leo está super preocupado com a mãe. Não sabemos até onde esse Renato pode chegar, né?
:_ é compreensível, mas Pili me diga uma coisa
:_ sim, mãe
Patrícia se aproximou dela, baixando a voz para que a conversa fosse mais confidencial. O olhar da mãe era incisivo, como se buscasse uma resposta definitiva.
:_ não tem possibilidade da sua sogra nos trair , né ?
Pilar tentou disfarçar a tensão, passando a mão pelos cabelos enquanto buscava a melhor forma de responder.
:_ não, isso não. Vera quer muito causar mal-estar à Helena, e eu tenho certeza de que vai fazer de tudo para voltar com o Renato. Quanto a isso, eu confio nela.
Patrícia balançou a cabeça, desconfiada.
:_ eu não confio Pili. Mulher apaixonada é capaz de tudo. E esse Renato... O que ele realmente sente pela Helena?
:_ não sei mãe... Vera me confidenciou que ele quer reconquistá-la e retomar o namoro, mas eu conheço a Helena. É muito improvável que isso aconteça. E, além disso, ela já está com outro cara, né? Até foi viajar para encontrá-lo. A Mai me contou.
Patrícia fez uma expressão de desconfiança.
:_ temos que tomar cuidado para que esse Renato não dê com a língua nos dentes
Pilar assentiu, o olhar se tornando mais sério. Havia algo pesado pairando no ar, algo que ainda não podia ser totalmente controlado.
:_ por falar nisso, precisamos ir ao shopping, a um lugar mais seguro, para conversarmos sobre "aquela situação"...
:_ e como está o trabalho que vocês estão fazendo em conjunto com os Davilla ?
:_ tá indo de vento em poupa, graças a Deus , alguns imprevisto mas tá saindo ótimo , Detesto ter que ir até a agência e ter que suportar aquela Manuela. Ela é sem graça e força uma simpatia com todo mundo. Não suporto.
Patricia franziu a testa, observando a filha com mais atenção. O tom de Pilar estava carregado de desagrado, algo que a mãe não deixava passar.
:_ essa moça, a Manuela, você já conhecia?
Pilar respirou fundo, tentando manter a calma, mas sua irritação era evidente. Ela olhou para o lado, como se buscando as palavras certas.
:_ conheci sim, na festa que o Leo organizou. Ela foi. Sinceramente, para mim é desnecessário, já que ela é apenas uma funcionária, mas a Vera insiste em manter-se cordial...
:_ nossa, ela me passou uma boa impressão quando eu visitei a Vera... Mas algo me chamou a atenção nela... Não sei, algo não parece certo.
:_ eu não suporto, por mim nem falaria com ela , afinal eu sou a nora da Vera e futura esposa do Leo não tenho que dar satisfação a funcionárias
Patrícia observou Pilar com um olhar atento. Havia algo mais por trás do desconforto da menina, algo que ela, como mãe , sabia identificar. Embora não fosse a mãe biológica de Pilar, ela a tivera em seus braços muito pequena, ainda recém nascida e conhecia cada nuance de sua filha — o tom de voz, a respiração, o sorriso, até mesmo os pequenos suspiros e os choros. Sabia exatamente como Pilar agia em cada situação. Por isso, aquele comportamento não passava despercebido. Algo estava além daquele simples incômodo.
:_ mas , Pili, infelizmente, isso é um procedimento padrão. é chato, eu sei, mas assim que você e o Leo se casarem, isso vai passar.
:_ tomara mãe
Patrícia se aproximou, percebendo o tom de Pilar. Não era só o que ela dizia que a preocupava, mas também a maneira como se comportava, o jeito que se fechava a cada palavra. A mãe sentou-se ao lado dela, pegando sua mão com suavidade.
:_ ou será que tem algo mais, além disso?
:_ Ah, mãe, para você eu não posso e não consigo mentir. você sabe que eu nunca me importei com as amizades de nenhum namorado, mas essa garota... Não sei. Eu não gosto dela, e não queria que ela fosse amiga do Leonardo. Me causa estranheza demais.
Patrícia observou Pilar, seu olhar atento, buscando compreender o fundo daquelas palavras.
:_ mas é por causa da profissão dela, ou tem algo mais?
:_ não, sobre isso, never. até porque a Maitê é vendedora no shopping, e eu apoiaria ela com meu irmão. O fato é que... Ela me causa uma sensação estranha. Não me passa confiança.
Patrícia ficou em silêncio por um momento, observando os gestos de Pilar, que parecia hesitar antes de continuar.
:_ você tem ciúmes dela com o Leonardo, filha?
:_ bom, para ser sincera eu tenho sim. Ela é só uma recepcionista, funcionária da empresa dos pais do Leo, mas me causa ciúmes porque... não sou cega e não posso negar o quanto ela é bonita. Ainda por cima, parece muito madura e segura de si. Mãe, ela até tem a mesma cor de cabelo que a minha! É o tipo do Leonardo e... a presença dela me afeta mais do que eu gostaria que afetasse.
Pilar se recostou o sofá, tentando afastar o peso que sentia no peito. Sabia que não deveria se sentir assim, mas não podia controlar a sensação de insegurança que surgia sempre que pensava na amiga do namorado. A conversa com a mãe, porém, parecia ser a única válvula de escape para seus sentimentos conflitantes.
Patrícia a observou com atenção, sentindo uma mistura de preocupação e carinho. A filha nunca fora de demonstrar fraqueza, mas a insegurança que Pilar estava revelando era algo que a tocava profundamente. Ela sabia que por trás daquela máscara de elitismo e arrogância, havia uma menina frágil, ainda lutando com os fantasmas do passado.
Pilar nunca fizera questão de esconder sua postura elitista, mas por trás disso, estava uma jovem extremamente insegura, que lutava para não demonstrar suas fraquezas. Com a mãe, no entanto, Pilar se sentia à vontade para ser quem realmente era. Ela sempre fora grata por ter sido adotada, mas o abandono de seus pais biológicos a deixava com uma dor silenciosa. A sensação de não ter sido desejada se alastrava dentro dela, como uma sombra. Patrícia, que a havia acolhido com tanto amor, sabia que Pilar se sentia culpada, como se fosse ela a responsável pelo abandono. Mas Patrícia nunca havia visto isso assim. Desde o primeiro momento em que a conheceu, se encantou pela menina. Mesmo com poucos fios de cabelo, o tom acobreado era lindo e os olhos claros da criança a faziam se sentir conectada de uma maneira inexplicável. Era como se Pilar tivesse sido feita para ser sua filha, e ela se sentia completa ao lado dela.
Por isso, ao dar à filha o nome de Pilar, Patrícia pensou em algo forte e simbólico. A primeira letra de seu próprio nome, para que sempre lembrasse da sua presença na vida de Pilar. E o significado do nome — força e resiliência — parecia perfeito para a menina que havia crescido em um ambiente cheio de amor, apesar das dificuldades.
Mas, por mais que Pilar fosse grata, havia um peso. Ela amava seus pais, mas não podia evitar o medo de não ser boa o suficiente, de ser uma intrusa na vida deles. Ela ainda sentia a dor do abandono, e esse sentimento a consumia mais do que ela gostaria de admitir.
Patrícia, com os olhos cheios de ternura, olhou profundamente para Pilar, tentando transmitir tudo o que ela sentia pela filha.
:_ mas minha filha, você é linda. Além disso, tem um sorriso radiante, esses olhos incríveis e esse cabelo maravilhoso. Você é inteligente, simpática, educada, e vem de uma família maravilhosa. Não há como negar o quão valiosa você é. Você não deve se sentir inferior a uma menina qualquer, e mais, ela aparenta ser até mais velha que você. Imagina... sentir-se insegura por isso?
Helena desceu as escadas com passos suaves e logo percebeu que os pais não estavam em casa. Sebastiana, que estava quieta organizando algumas coisas na dispensa, notou a presença de Helena e levantou o olhar.
:_ oi, Tiana, estou incomodando?
:_ claro que não Heleninha, dormiu bem ?
:_ dormi bem sim
:_ que bom filha, você parece bem mais leve
:_ eu sempre fico bem quando estou com Tavinho, Tiana queria sua ajuda
:_ claro Heleninha, pode dizer
:_ você me disse que chegou a conhecer a Olivia, mãe de Tavinho, né? Ou estou enganada?
:_ sim, filha, conheci sim. Não muito, pois não éramos próximas, mas conhecia o suficiente. Ela foi uma das primeiras mulheres casadas aqui de São Jorge a trabalhar fora. Lavava roupas e fazia o que podia... e era uma moça muito educada, um encanto de menina... Pena que ela se foi tão cedo...
Helena ficou em silêncio por um momento, olhando para Sebastiana com um olhar de empatia.
:_ Nelson, o seu pai de Otávio , não era a favor dela trabalhar fora, então ela encontrou uma forma de ganhar dinheiro sem que o marido "brigasse" com ela.
Helena, tocada pela história, deu um pequeno passo à frente, como se quisesse entender mais profundamente a vida de Olivia. A conversa parecia ter aberto uma porta para muitas emoções não ditas, e Helena sentia uma conexão mais forte com a história de sua sogra.
:_ É, Nelson ainda continua bem machista. Foi uma luta para que ele aceitasse Inês namorar Bruno. Mas você se lembra de mais alguma coisa sobre Olivia?
Apesar de Olivia ser mãe de Tavinho, ela nunca conseguiu vê-la como sogra. Para ela, a figura que se aproximava mais dessa definição era Iolanda, madrasta de Otávio , a mulher pela qual ela tinha muito carinho e afeto.
:_ ah minha filha, só isso mesmo. Ela era muito nova quando engravidou e, por isso, casou muito cedo. Nem terminou os estudos. Aliás, na época dos seus pais, só filhos de ricos conseguiam terminar os estudos...
:_ compreendo Tiana, a desigualdade social , os filhos precisam trabalhar desde cedo para ajudar em casa
:_ é isso mesmo Heleninha e além do mais as moças engravidavam mais cedo, eram obrigadas a se casar a sociedade julgava muito
:_ são Jorge não evoluiu muito nessa questão
Sebastiana acenou a cabeça afirmando a fala de Helena, Helena continuou a conversa tentando chegar no seu objetivo
:_ você se recorda do rosto da Olivia, Tiana?
Sebastiana fechou os olhos por um momento, como se tentasse puxar com mais clareza as memórias de Olivia. Ela compreendia que, para Helena, entender mais sobre a mãe de Tavinho poderia ser um passo importante, talvez uma maneira de se aproximar mais dele.
:_ ela era branca, mas tinha várias manchinhas no rosto, queimaduras do sol e da exposição. O cabelo dela era liso, castanho, um pouco mais claro que o de Otávio. Os olhos eram bonitos, o que a tornava ainda mais atraente. Ela era muito vaidosa... mais bonita , era muito vaidosa...
Sebastiana começou a descrever, como se estivesse revivendo os detalhes de um rosto que, apesar de ter ficado para trás, ainda tinha seu lugar na memória.
Ela então olhou para Helena, com uma expressão pensativa.
:_ Otávio não tem nenhuma foto da mãe ?
:_ eu acho que tem sim, mas eu não toco nesse assunto com ele. Tiana, você se recorda de Elisabeth, aquela mulher de quem te contei?
:_ lembro sim, vagamente mas lembro
:_ ela apareceu dizendo ser prima distante da Olivia, e Nelson confirmou a versão dela.
As palavras de Helena causaram um choque imediato em Sebastiana, que ficou visivelmente surpresa. Ela nunca imaginaria tal história. A ideia de uma "prima gringa" de Olivia parecia quase impossível, algo irreal. Sebastiana ficou incrédula.
:_ eu pensava que ela era uma cliente de seu pai, que veio de outro país...
:_ é, de início foi isso... Mas depois ela veio com esse assunto, e Nelson confirmou.
Sebastiana , completamente surpresa, tentava digerir as palavras de Helena, enquanto a jovem se mantinha focada em sua própria desconfiança. Helena sentia que algo não estava certo, e a ideia de Elisabeth e Olivia serem de mais que primas só aumentava suas suspeitas. Helena, então, pegou seu celular com um movimento rápido, abriu a galeria de fotos e, com um olhar decidido, mostrou a Sebastiana uma imagem. Sebastiana, em silêncio, levou alguns segundos para encarar a foto. Quando seus olhos se fixaram na imagem, uma sensação estranha a envolveu. Era como se algo frio e inexplicável percorresse sua espinha, fazendo os pelos de seu corpo se arrepiarem. A semelhança entre Elisabeth e Olivia era impressionante — quase surreal. A jovem tinha os mesmos traços, o mesmo olhar, algo que não poderia ser ignorado.
A expressão de Sebastiana se tornou ainda mais perplexa, como se estivesse diante de um mistério que desafiava todas as suas certezas.
Ana Beatriz, que estava andando pelo comércio popular de São Jorge, acabou se encontrando com a família Ferraz. Quando seus olhos se cruzaram com os de Otávio, ele ficou visivelmente desconfortável, sentindo a presença dela de forma quase invasiva. Ela sorriu de maneira simpática, cumprimentando Inês com um beijo no rosto, mas a cordialidade parecia forçada. Inês tentava manter a compostura, embora não estivesse totalmente confiante nas últimas atitudes de sua cunhada. Iolanda também beijou o rosto de Ana Beatriz, uma menina que ela conhecia desde criança, mas seu sorriso não era o mesmo de antes. Nelson, por outro lado, começou a se afastar discretamente, como se tentando evitar o desconforto da situação.
Otávio, percebendo a tentativa de distanciamento do pai, começou a ir atrás dele, mas foi interrompido por Ana Beatriz.
:_ Oi, Tavinho, bom dia!
:_ bom dia Beatriz
:_ tá curtindo o domingo ?
:_ não, eu só vim fazer companhia a minha família mesmo
:_ ah , entendi, Você está muito bonito, aliás, parece que a cada dia que passa você está ainda melhor. E
Otávio , embora tentasse manter a postura, não podia negar que o elogio aumentava seu ego. Ele nunca teve um interesse romântico por Ana Beatriz, mas não podia deixar de notar sua beleza. Inês sentiu um desconforto crescente. pois Ana Beatriz era irmã de Bruno e Helena além de cunhada era uma grande amiga
:_ meu irmão é mesmo lindo, Bia.
:_ e você, Inês, curtiu bastante ontem?
:_ curtimos sim
Ana Beatriz então se virou para Otávio, com uma expressão um pouco mais séria, como se estivesse esperando um momento mais íntimo entre os dois.
:_ Tavinho , eu gostaria de falar contigo.
Otávio, no entanto, já sabia onde isso iria dar e, com um suspiro, respondeu, tentando manter a educação, mas com firmeza
:_ Beatriz, eu não quero ser grosseiro contigo mas eu não quero
Ana Beatriz, no entanto, não parecia disposta a desistir tão facilmente. Ela soltou uma risada baixa, e com um olhar de desafio, falou
:_ agora não podemos se quer sermos amigos ? a Helena não deixa, né ?
Otávio r percebendo a provocação, não pôde deixar de rir baixinho. Ele sabia que Ana Beatriz estava tentando desafiá-lo, jogando com a situação, mas ele também sabia que não cairia nesse jogo. Seu sorriso, no entanto, não era de prazer, mas de alguém que compreendia bem as intenções de quem estava à sua frente.
:_ vamos, Tavinho, o pai já está indo para o carro.
João Paulo preferiu não sair do quarto naquele dia. Sentado em frente ao computador, ele estava concentrado, planejando as próximas aulas, mas sua mente não estava totalmente ali. Em uma segunda aba do Google, o Instagram de Helena estava aberto. Ele observava com uma expectativa silenciosa, esperando por uma foto, um vídeo ou qualquer status que sua aluna da faculdade pudesse postar. A saudade e a ansiedade estavam consumindo-o. Ele adorava a proximidade de Helena, e, embora ela já tivesse deixado claro para ele que, ela era comprometida e apaixonada pelo namorado, não poderia haver nada entre eles, ele não conseguia se afastar dessa obsessão. Para ele, o jogo de sedução era fascinante, e ele jurava para si mesmo que, de alguma forma, Helena ainda seria sua. O silêncio do quarto foi quebrado por algumas batidas na porta. A avó, como sempre, apareceu de repente, e João Paulo, num reflexo apressado, fechou todas as guias da tela do computador com um movimento rápido. Um frio percorreu sua espinha ao perceber o que acabara de fazer. Por que ele sentia a necessidade de esconder isso dela? O que exatamente ele temia que sua avó soubesse?
A tensão no ar era palpável. João Paulo respirou fundo, tentando disfarçar a inquietação enquanto se preparava para enfrentar a avó.
Sebastiana ficou ainda mais branca do que de costume. Sua expressão, geralmente calma e controlada, agora estava marcada pela surpresa e apreensão. Helena percebeu imediatamente, e, preocupada, ofereceu uma cadeira para a antiga babá se sentar, acompanhada de um copo de água, tentando aliviar a tensão que pairava no ar.
:_ Tiana ?
:_ eu estou bem , minha filha, só fiquei surpresa...
:_ ela é uma mulher bonita
Sebastiana, depois de um suspiro, respondeu com uma expressão tensa
:_ filha, ela é muito parecida com Olivia, é claro... muito mais chique, pois é rica e Olivia não era. Mas são parecidas. É como se eu estivesse olhando para o futuro de Olivia.
As palavras de Sebastiana fizeram o coração de Helena bater mais rápido. Ela engoliu em seco, sentindo um peso crescente no peito. As suspeitas, que até então estavam se formando vagarosamente, agora começavam a se tornar certezas incontroláveis.
:_ você acha que as duas podem...
Helena não conseguiu terminar a frase. Sua mente estava dividida entre o absurdo da ideia e a possibilidade angustiante de que tudo o que ela imaginava fosse verdade.
Ela se sentia envergonhada, como se uma parte de sua razão estivesse tentando negar a própria conclusão. Como seria possível? Elisabeth e Olivia... seriam a mesma pessoa?
Sebastiana, percebendo o embaraço de Helena, tocou sua mão suavemente, tentando ajudar a moça lidar com a dúvida.
:_ qual a idade dessa Elisabeth, filha ?
:_ eu nunca questionei isso Tiana
:_ é muito estranho, essa mulher veio mesmo da gringa?
:_ sim, ela tem um sotaque de Portugal.
:_ ela veio com mais alguém da família ?
:_ a princípio, ela me disse que tinha vindo com o marido para visitar uns parentes dele.
:_ pode ser que sim, pois Olivia não tinha família aqui além de Nelson e do filho
:_ ela tem uma filha, Eu tentei muito conhecê-la, mas Elisabeth desconversou bastante sobre isso.
As palavras de Helena acenderam uma faísca de desconfiança em Sebastiana, que a olhou com atenção renovada.
:_ você já viu alguma foto dessa filha dela ?
:_ É Sophia, ela tem cerca de 10, 11 anos, mas só tem foto antiga no feed dela, que é trancado.
Helena estava prestes a mostrar a foto de Sophia, mas antes que pudesse abrir a galeria do celular, a porta da casa se abriu, e Tadeu e Amália chegaram. A presença deles interrompeu o momento, mudando o curso da conversa. Com um sorriso, Helena cumprimentou os pais, dando-lhes um beijo carinhoso. Amália, ao notar a filha, começou a arrumar os cabelos dela, que caíam em suas costas, como sempre, de maneira impecável. Sebastiana, que havia absorvido as informações com um misto de surpresa e apreensão, aproveitou o momento para se retirar discretamente. Ela ainda estava digerindo a semelhança entre Olivia e Elisabeth, e a confusão em sua mente precisava de um tempo para se acalmar. Sabia que a conversa com Helena tinha deixado muitas perguntas sem resposta, mas não estava pronta para lidar com tudo aquilo ali e agora.
Leo convidou Pilar para passarem o dia juntos. Ele estava visivelmente preocupado e queria muito conversar sobre sua mãe. Sabia que Pilar tinha uma boa relação com Vera e acreditava que ela poderia ajudar a amenizar a situação.
Patrícia estava na cozinha, conversando sobre o cardápio do dia mas não conseguia deixar de pensar na conversa que teve mais cedo com a filha. Ela sabia que Vera não estava passando por seus melhor momentos, e não achava justo que Pilar, tão jovem, fosse obrigada a carregar esse peso. Patrícia suspirou antes de chamar Pilar.
:_ filha
:_ oi mãe
:_ :_ Seu namorado não deveria te pressionar a esse ponto. Vera é a mãe dele, e se ela não ouve o próprio filho...
:_ mas eu sou mulher mãe e além do mais o Leo confia em mim, de verdade eu até gosto dessa confiança
Patrícia suspirou novamente, olhando para a filha com carinho, mas sem esconder a preocupação.
:_ tá filha, mas se cuida
Ela passou uma das mãos no cabelo de Pilar, ajeitando um fio que teimava em cair sobre o rosto dela.
Pilar sorriu, beijando a mãe na bochecha antes de pegar a bolsa e dar uma última olhada para a cozinha.
Pilar sorriu, beijando a mãe na bochecha antes de pegar a bolsa e dar uma última olhada para a cozinha.
:_ beijo mãe, avisa o pai que eu tô de saída
Patrícia aproveitou a saída dos filhos para finalmente ter a conversa que vinha adiando há anos. Ela nunca havia entendido de fato sobre o passado e o nascimento de Pilar. Aceitou a adoção porque se encantou pela criança que parecia uma princesa recém-nascida, mas nunca compreendeu a verdadeira ligação de Frederico com ela. Com esses pensamentos em mente, Patrícia caminhou pelo corredor com um passo decidido. No entanto, seus pensamentos estavam distantes de sua intenção inicial. Desde que conheceu Manuela, ela percebeu o quanto a moça e Pilar eram parecidas fisicamente. Algo dentro dela dizia que não poderia mais adiar aquilo. As peças estavam se encaixando de forma que ela não podia ignorar. Quando chegou à porta do escritório de Frederico, hesitou por um instante, as mãos ligeiramente trêmulas. Ela olhou para a maçaneta, como se fosse difícil tocar nela, mas respirou fundo e bateu suavemente.
:_ oi Fred
:_ oi meu amor, acabei me entretendo , o almoço já vai ser servido ?
:_ Daqui a pouco. Nando e Pilar já saíram, e agora somos só nós dois em casa.
Patrícia respondeu de forma calma, mas seu tom parecia pesar a cada palavra. Ela olhou para ele, notando a reação dele, e percebeu que Frederico já estava começando a perceber que algo estava errado.
:_ você está bem ?
Frederico percebeu a tensão evidente no rosto de Patrícia , os olhos azulados estavam firmes e sem brilho, o sorriso não existia em seu rosto
:_ não estou bem
Frederico franziu a testa, a preocupação tomando conta de seu rosto. Ele deu um passo à frente, aproximando-se dela, mas ainda assim, havia uma distância emocional difícil de ignorar. O silêncio que se seguiu fez o ambiente parecer mais apertado, mais sufocante.
:_ foi alguma coisa com os meninos ? o que aconteceu ?
:_ precisamos falar sobre a origem da Pilar, eu preciso saber da verdade
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