capitulo 5: Corações em Conflito (parte 10)
Catarina e Luiz Fernando estavam passando o domingo juntos. O noivado se aproximava, e a cada dia ele se mostrava mais apaixonado por ela. Mesmo com a família contrariando a relação, Luiz Fernando não estava disposto a desistir do amor que dizia sentir. Catarina, por outro lado, apesar de gostar da companhia de Fernando, não o amava.
Luiz Fernando tinha muitas qualidades: era educado, divertido, respeitador e, acima de tudo, a amava. Não poupava esforços para fazê-la feliz — inclusive financeiramente, o que, para ela, era o mais importante. Catarina se importava muito com dinheiro e bens materiais. Suas relações eram construídas sobre isso e sobre o que as amizades e os relacionamentos poderiam lhe proporcionar.
Deitados juntos assistindo IPTV, Catarina vestia a camisa dele e uma calcinha vermelha de renda que a-deixava lindamente sensual e recebia carícias, beijos e abraços. Luiz Fernando, completamente envolvido, perguntou se ela gostaria de sair à noite, e ela viu ali uma oportunidade perfeita para manipular a situação — especialmente contra Maitê, amiga do casal.
:_ Kate
:_ oi, meu amor
:_ Você está pensativa?
:_ não, na verdade Nando... tô triste
:_ mas por que, linda? nos passamos um dia tão gostoso
Catarina sentou-se na cama, olhando para o namorado com aquele sorriso suave nos olhos — ela sabia exatamente como conquistar e manipular. Era uma mulher que dominava as palavras e os gestos.
:_ meu dia foi simplesmente perfeito com você, amor...
Luiz Fernando acariciou os ombros dela, aproximando-se de seus lábios com carinho.
:_ Então me conta... por que esse olhar distante?
:_ Amanhã a Lele tá de volta, e o clima no shopping não está dos melhores. Tá tudo muito difícil..
:_ muito trabalho, minha linda?
:_ não, o trabalho a gente reveza. As meninas são muito profissionais, e a Heleninha deixa a maior parte das decisões para a Maitê, a confidente dela...
Nando acariciou o rosto de Catarina com os dedos, sentindo a pele macia enquanto observava o olhar entristecido da namorada.
:_ Tá com ciúmes da amizade das duas? Meu amor, a Helena te adora! Não é à toa que vai ser nossa madrinha...
:_ Não, meu amor, não é isso... Eu sei que a Heleninha me adora, e eu também adoro ela demais. Ela é minha melhor amiga.
:_ Então tem algo te incomodando, né? Me conta...
Nando puxou Catarina para mais perto, deitando a cabeça dela em seu colo enquanto começava a acariciar sua barriga.
:_ amor, tá tudo bagunçado, o Renato foi procurar a Helena no shopping
:_É, eu ouvi a Pili e minha mãe comentando que ele e a Vera terminaram o namoro.
:_ Nossa... disso eu não sabia. Mas enfim, depois disso o clima ficou pesado. A Helena tá mal, tadinha...
:_ Ele ainda mexe com ela, né? Que pena...
:_ Ela tá incomodada com tudo isso... com a história da Helena e da Vera. E, como a Vera é sogra da sua irmã, você deve estar por dentro, né?
:_ estou sim
:_ mas algo que me deixou muito incomodada, foi a reação das meninas
Nando franziu o cenho, curioso, virando-se um pouco para encarar melhor a namorada, que permanecia sentada à beira da cama com a camisa dele, os cabelos caindo pelos ombros.
:_ Maitê ficou muito irritada com tudo isso. Nossa, ficou até mais abalada que a própria Helena... e a menina nova também, a Thainara. Mas a Maitê... ela ficou nervosa demais.
Nando tentou justificar tentando achar uma razão lógica, sem perceber a manipulação da namorada
:_ ah , mas é normal, né, amor? O Renato fez muito mal à Helena
Catarina sentou-se lentamente até ele e se posicionou à sua frente, encarando-o nos olhos com um olhar triste e calculado. Sua expressão parecia sincera, mas por dentro ela arquitetava cada palavra.
:_ Amor... a Maitê ficou incomodada demais com o Renato procurando a Heleninha... Ele se declarou pra ela ali, e... nossa, a Mai perdeu o controle. Mais do que a Helena.
Ela deu uma pausa, baixou o olhar como se lutasse contra um pensamento indesejado, e sussurrou com pesar, como quem teme dizer em voz alta o que imagina
:_ foi bem estranho, uma irritação que não parecia ser apenas cuidado de amiga, parecia...
Ela não completou. Apenas deixou a frase no ar, um veneno sutil que se infiltrava lentamente na mente de Luiz Fernando.
:_ você acha que a Maitê ...
Nando deixou a pergunta no ar, mas Catarina não permitiu que ele completasse. Antes que qualquer suspeita tomasse forma definitiva, ela baixou o olhar, mordeu levemente o lábio e suspirou pesadamente, como se estivesse lutando contra um pensamento que não queria admitir.
Os olhos marejaram no momento certo.
:_ meu amor, … eu não… Ai, que loucura. Eu não quero pensar nada ruim da Mai… Ela é nossa amiga. Sua melhor amiga. Minha amiga da faculdade, do trabalho… Além do mais, ela namora o Gustavo.
Catarina deu um sorriso fraco, de alguém que tenta se convencer de que nada está errado.
:_ E eles estão cada dia mais próximos, mais íntimos…
Luiz Fernando segurou o queixo dela com delicadeza, aproximando-se devagar. O olhar dele era de carinho e confiança, e isso apenas reforçava o controle que Catarina exercia sobre ele.
:_ minha melhor amiga é você , minha linda. eu sei que você Eu sei que você é um anjo e que não gosta de julgar ninguém… Muito menos de formar uma opinião ruim sobre alguém.
:_ depois desse dia que ele foi falar com a Heleninha e a Mai até derrubou uns vestidos que a cliente queria provar, eu me lembrei de um episódio...
Luiz Fernando franziu o cenho, demonstrando curiosidade.
:_ que episódio ?
Catarina suspirou, fingindo estar relutante em continuar. Ela baixou o olhar, como se estivesse pensando se deveria ou não falar. Quando finalmente ergueu os olhos, Luiz Fernando já estava atento.
:_ Quando a Heleninha estava na fazenda do tio Tadeu, o Renato apareceu no shopping. Eu até o vi na praça de alimentação. E sabe o que aconteceu? Ele levou um susto ao me ver. Tentou disfarçar perguntando da Heleninha… Só que todo mundo sabia que ela estava na casa do tio, porque ela sempre atualiza o Instagram.
Catarina jogou o cabelo para o lado, deixando o perfume dela envolver Luiz Fernando. Sua expressão era um misto perfeito de dúvida e inocência, como se estivesse apenas compartilhando um pensamento, sem nenhuma intenção oculta.
Mas a intenção era clara: Ela queria plantar uma semente. Queria que Luiz Fernando começasse a olhar Maitê com desconfiança, porque sabia que tanto Maitê quanto Thainara poderiam descobrir sobre ela e Renato. Se isso acontecesse, era questão de tempo até uma delas tentar abrir os olhos dele.
Antes que Luiz Fernando pudesse processar direito a informação, Catarina lançou a cartada final.
:_ e teve uma vez também, que Renato encontrou com a Maitê e os dois ficaram conversando
Luiz Fernando arregalou os olhos levemente. Ele já sabia desse encontro. A própria Maitê tinha contado para ele. Mas agora, na forma como Catarina narrava, tudo parecia ter um peso diferente, E era exatamente isso que ela queria.
clima na fazenda era de pura harmonia. A família Dos Reis e a família Ferraz aproveitavam a tarde de domingo, reunidos sob a sombra das árvores enquanto a brisa suave amenizava o calor típico de fevereiro. Tadeu e Nelson conversavam animadamente sobre fazendas, investimentos no agronegócio e os desafios do setor, trocando experiências com entusiasmo. Helena, por sua vez, matava a saudade de Otávio, rindo das histórias que ele contava, enquanto dividia momentos de cumplicidade com seus amigos Inês e Bruno. Sentada ao lado da amiga, Inês estava visivelmente animada. Seus olhos brilhavam ao falar sobre a viagem a São Paulo, sua primeira vez na capital, onde passaria o carnaval em um clube renomado. O baile, que Helena e os amigos planejavam há semanas, era o grande evento do qual ela desejava participar. Bruno, ao seu lado, sorria ao perceber a felicidade estampada no rosto da namorada. Ele adorava vê-la assim, empolgada, cheia de expectativas. Observando ao redor, notou a forma calorosa com que os Dos Reis tratavam seus convidados. Amália, sempre acolhedora, fazia questão de incluir Iolanda na conversa, tentando deixá-la mais à vontade. A matriarca percebia o quanto a madrasta de Otávio se sentia retraída diante de uma família tão tradicional e influente, e fazia todo o possível para quebrar essa barreira.
Enquanto o som das risadas ecoava pela varanda, Bruno se pegou pensando em como teria sido diferente se tivesse nascido filho de Tadeu e Amália. Apesar da riqueza da família Dos Reis, o que mais o impressionava neles era o amor e respeito genuíno que compartilhavam entre si e com aqueles ao redor—algo tão raro em sua própria casa.
O celular de Otávio vibrou sobre a mesa, chamando sua atenção. Ao desbloquear a tela, viu que era uma notificação de Elisabeth. Com um sorriso espontâneo, ele pegou o celular e logo respondeu o áudio da "prima" com entusiasmo. Para complementar, tirou uma foto ao lado de Helena , capturando o momento agradável que estavam vivendo na fazenda. O dia estava perfeito—o céu azul, o sol brilhando, o verde intenso da paisagem ao redor.
No entanto, enquanto ele interagia despreocupadamente, os olhares ao redor se encontraram, carregados de significados ocultos. Sebastiana, sempre atenta, direcionou um olhar acusador a Nelson, como se tentasse decifrar algo. Ele, por sua vez, evitou encará-la diretamente.
:_ é a prima Elisa
Helena sorriu e respondeu com naturalidade:
:_ manda um beijo para ela
Otávio, animado, decidiu abrir o áudio em viva-voz para que todos ouvissem. A voz feminina soou clara e envolvente pelo ambiente:
:_ Olá, Heleninha, minha querida! Que saudades! Infelizmente, não conseguimos encontrar-nos no aeroporto de São Paulo. Um beijinho para ti e para os teus pais. Mal posso esperar para visitar o Brasil novamente e voltar a ver-vos!
A mensagem parecia inofensiva, mas um detalhe chamou a atenção de Helena. Ela notou algo estranho na forma como Elisabeth falava. O sotaque, normalmente fluido, parecia agora forçado, como se ela estivesse exagerando o português de Portugal ao se dirigir a Otávio. No entanto, quando conversava com ela, isso não acontecia.
Um leve incômodo surgiu no olhar de Helena, mas ela manteve sua expressão serena. Algo não fazia sentido, mas, por enquanto, guardaria essa desconfiança para si.
Nelson sentiu um aperto no peito assim que a voz de Elisabeth ecoou pelo ambiente. Era inevitável. Mesmo depois de tanto tempo, aquela voz ainda tinha o poder de fazê-lo estremecer. Ele tentou disfarçar, mas sua expressão se fechou por um instante, como se uma lembrança antiga o tivesse atingido em cheio. Sem perceber, soltou uma risada irônica—um reflexo de algo que nem ele próprio sabia explicar. No entanto, aquele pequeno gesto não passou despercebido. Sebastiana, sempre atenta aos detalhes, não tirava os olhos dele. Do outro lado, Sebastiana observava tudo com olhos afiados. Ela não precisou de mais nada para ter certeza: aquela mulher não era apenas uma prima distante de Otávio e Olivia. Seu instinto lhe dizia que havia uma história oculta ali—e, pelo jeito, Nelson estava no centro dela.
:_ eu sinto que se o Bruno estivesse comigo, muita coisa seria diferente. A presença é importante na vida de uma criança e, bem... Bruno é importante na minha vida.
:_ você nunca deixou de ama-lo né Gabi?
:_é verdade, eu não posso negar. Eu continuo amando o Bruno. E agora que eu sei de toda a verdade, que os pais dele esconderam a minha gravidez... esse sentimento voltou ainda maior. E a vontade de tê-lo ao meu lado, pra gente cuidar da nossa filha.
Yara balançou a cabeça com pesar.
:_ bom, eu continuo achando que foi um erro você não ter contado tudo pra ele. Porque a culpa recaiu só em você, quando os maiores culpados são o Estevão e a mulher dele.
:_ eu sei... essa culpa me corrói. Mas a proposta foi boa. Agora vou ter um plano de saúde melhor pra Céci, você sabe que ela anda doentinha. Além disso, o Estevão está nos ajudando muito. Além do plano, ele vai me dar uma casa no nome da minha filha e até propôs montar um negócio pra mim, pra eu ser independente e sair daqui.
:_ você comentou isso com seus pais ? Seu pai é tão apegado à menina...
:_ não, eu ainda não disse nada. Eles não vão me apoiar nisso, tenho certeza. Mas quando a gente é mãe, a gente tem que pensar no bem dos nossos filhos.
:_ Bruno disse que nada vai faltar a Cecília
Gabriela mordeu o lábio inferior. Parecia cansada.
:_ amiga , Bruno ganha pouco mais de 2 mil reais e eu nem sei se é em folha e Estevão quem paga a pensão da Cecília por isso eu recebo bem, mas ele deixo claro que se eu não aceitasse a proposta dele , ele cortaria a ajuda e eu ficaria apenas com a pensão que Bruno pode pagar
Yara apertou os lábios e bateu o tererê devagar contra a coxa, incomodada.
:_ Isso não é uma proposta, Gabi. É quase uma ordem. Ele não pode te chantagear assim. Um dia o Bruno vai descobrir isso. Você sabe que, cedo ou tarde, a verdade chega. E sua filha, quando estiver grandinha e descobrir isso?
Gabriela baixou a cabeça. As palavras de Yara ecoaram como um alerta que ela já conhecia, mas ainda não estava pronta para enfrentar.
Gabriela segurava o copo de tererê entre as mãos, mas não bebia. O gelo já derretia devagar, misturando-se à erva no fundo do copo. Ela encarava o chão com os olhos úmidos, tentando disfarçar o nó que se formava na garganta.
:_ não fale nisso Yaya. tudo o que eu estou tô fazendo dói demais, porque tudo o que eu queria era cuidar da minha filha ao lado do homem que eu amo. Eu tô entre a razão e a emoção...
Yara, sentada ao lado, estendeu a mão e segurou o braço de Gabriela com carinho. Seus olhos demonstravam preocupação verdadeira.
:_ entre a razão e a esperança, Gabi. Porque nada garante que esse homem vai cumprir o que prometeu. E você trabalha, o Bruno também trabalha. Dá muito bem pra vocês cuidarem da Cecília. Além disso, eu tenho certeza que seus pais não deixariam de te apoiar se soubessem de tudo.
:_ Yaya, a gente veio de são Jorge praticamente obrigados, a minha mãe detesta os pais do Bruno você sabe o quanto meu trabalho tá difícil. A Naomi sempre dá um jeito de me humilhar, me trata diferente das outras. e além do mais… apesar dos meus pais cuidarem da Cecília, minha mãe nunca me perdoou por ter engravidado nova. Eu passo por dificuldades, por humilhações, com a minha filha. E tudo isso... tudo isso é por ela. o. eu sei sei que posso parecer interesseira, uma golpista... mas quando se é mãe, a gente tem que pensar nos filhos primeiro. se o Estevão cumprir tudo o que falou… eu vou poder morar sozinha com a Cecí. Contratar uma babá, me livrar da Naomi... tudo vai ser melhor. E ela vai ter o conforto que merece, uma vida melhor do que essa que eu tô conseguindo dar.
:_ Gabi, você é uma menina que luta pela sua vida, trabalhadora e o Bruno, pelo que eu vejo, parece que tem intenção de te ajudar, de cuidar da filha de vocês.
Gabriela soltou um suspiro longo, como se carregasse todo o peso do mundo nas costas. Passou a mão pelo rosto, tentando disfarçar a tristeza que insistia em transbordar pelos olhos.
:_ não adianta Yaya, agora é tarde eu já confirmei a mentira de Estevão eu já me culpei, já decepcionei o amor da minha vida , quem sabe a convivência faz com o que o amor que ele sentia por mim recomece e a gente possa voltar...
Nina aproveitou que Salvador estava dormindo descansando e decidiu ir até a casa de Ana Beatriz. A jovem havia passado os últimos dias ligando insistentemente, implorando por atenção. Nina não suportava as crises constantes e o comportamento instável de Beatriz, mas sabia fingir muito bem. Afinal, Ana Beatriz era uma peça importante em seu plano de vingança contra Estevão.
Enquanto dirigia pelas ruas tranquilas em direção à casa da garota, seus pensamentos mergulhavam nas lembranças amargas com Estevão. Cada humilhação, cada mentira... Tudo pulsava dentro dela como uma ferida aberta. E ela sabia que, para derrotar alguém como ele, era preciso sangue-frio — e estratégia. Ana Beatriz, frágil e vulnerável, era o alvo perfeito. Estava em ruínas, abalada por crises familiares, vivendo conflitos existenciais, abandonada emocionalmente pelos pais. Era uma vítima fácil, totalmente manipulável. E Nina usaria isso a seu favor, sem o menor peso na consciência.
Ao estacionar em frente à casa de Ana Beatriz, Nina desligou o motor com delicadeza e ajeitou os cabelos loiros e bem cuidados diante do retro visor. O perfume suave que usava preenchia o carro — ela fazia questão de estar impecável, mesmo em visitas breves. Retirou os óculos de sol com elegância, trancou o carro com um clique rápido e caminhou com passos firmes até a entrada da casa.subiu as escadas até tocar a campainha e foi recebida por Paulina
:_ boa tarde dona Nina
Nina sorriu por dentro. Dona Nina. Como era doce o som daquele título... Casar-se com Salvador realmente havia mudado sua posição social — e ela fazia questão de saborear cada detalhe disso, mesmo que discretamente.
:_ boa tarde Paulina, vim ver a Bia
Paulina abriu a porta com gentileza e cortesia, permitindo que Nina adentrasse o ambiente. A visitante observou cada canto da casa com olhos atentos e cobiçosos — em silêncio, desejava que aquele lugar um dia fosse seu. Não apenas a casa... mas tudo.
:_ Paulina, a Joane está?
:_ a dona Joane está descansando , vou chamar a dona Beatriz para você
Beatriz estava descendo as escadas que da imagem a sala de estar , totalmente arrogante Paulina como era seu costume
:_ pode deixar eu já desci!
Beatriz desceu as escadas e foi ao encontro de Nina. Usava um top vermelho justo e um short jeans curto, com um coturno preto pesado nos pés — contrastando com o calor típico de fevereiro. Mesmo com as temperaturas elevadas, Beatriz não abria mão de um visual marcante.
:_ nossa, pensei que tinha sumido Nina!
Apesar do incômodo, Nina sorriu falsamente e deu dois beijos no rosto de Beatriz, mantendo a pose doce e elegante.
:_ tive que sair de viagem com meu marido. Foi algo rápido, mas já estou de volta. Vim te ver porque imaginei que você tivesse novidades
Ana Beatriz fez um gesto e convidou Nina para entrar.
:_ Paulina, traz um refresco pra gente
:_ não precisa , Bia. Eu vim só por um instante, preciso voltar logo pra casa
:_ então vamos subir pro meu quarto. As paredes aqui têm ouvidos
Nina a seguiu com passos tranquilos, analisando cada detalhe da casa mais uma vez. Ao entrarem no quarto, sentaram-se lado a lado na beira da cama. Nina foi direta
:_ E o Otávio? Tem alguma notícia?
:_ A Helena está grávida do Otávio... e eu acho que, dessa vez, não tem nada que eu possa fazer.
Nina disfarçou o brilho de satisfação nos olhos. Por dentro, sorria. Mas, por fora, manteve o semblante sério, como se estivesse solidária.
:_ gravidez não significa nada, Bia. Tem muita mulher que engravida e, mesmo assim, não consegue casar. Isso não é garantia de amor, nem de final feliz.
:_ ela engravidou para amarrar ele , Nina. Eu tenho certeza disso.
Nina segurou a vontade de rir. Sabia que Helena jamais faria algo assim. Rica, independente, com princípios... Mas alimentar o ciúme e o ódio de Beatriz fazia parte do seu plano.
:_ não tá nada perdido, ouve o que eu tô dizendo. Agora é que você tem mais chances do que nunca.
:_ Sexta-feira eu conheci um carinha... a gente se viu de novo ontem. Ele é bonitinho, super gente boa. Foi legal comigo, me tratou bem. Talvez o Bruno tivesse razão... talvez seja a hora de mudar. Conhecer alguém que realmente goste de mim.
Aquelas palavras foram como um sinal de alerta para Nina. Ela jamais poderia deixar Beatriz seguir em frente. Isso arruinaria o jogo. Ela se inclinou levemente, com um olhar mais firme:
:_ você pode fazer isso, Mas primeiro precisa fazer com que o Otávio pague pelo que te fez. Bia, esse cara foi desleal com você. Te enganou, te usou... e essa menina, a Helena, foi completamente sem caráter. Eles merecem pagar pelo que fizeram com você.
Beatriz não respondeu de imediato, mas seus olhos brilharam com raiva. Exatamente o que Nina queria. O sofrimento dela era sua arma, e o veneno estava sendo destilado no tempo certo.
:_ é verdade, O Otávio desprezou meu amor, debochou de mim. E aquela... aquelazinha nunca perde a chance de me humilhar.
Nina sorriu, satisfeita com a ferida aberta e aproveitou para jogar ainda mais sal.
:_ amanhã , vá até o trabalho visitar a sua cunhada, a Inês. Sonda com jeitinho se a Helena voltou mesmo de vez. Às vezes essa gravidez nem existe, Bia. Você pode estar desistindo à toa. Beatriz... eu te garanto, esse cara ainda vai ser seu!
Beatriz arregalou os olhos, surpresa com a segurança de Nina.
:_ Você acha mesmo?
:_ Tenho certeza. E eu vou te ajudar com isso. Amanhã posso te dar uma carona, se quiser. Preciso fazer umas compras, e você pode ir comigo. A gente tá precisando passar mais tempo juntas
Ana Beatriz hesitou por um instante, mas acabou concordando. Apesar das dúvidas, havia algo reconfortante na presença de Nina. O que ela não sabia era que, por trás de todo aquele cuidado, havia um plano cuidadosamente arquitetado para usá-la.
:_ eu preciso mesmo sair um pouco... e nem te conto, discuti com a Larissa do salão
:_ Bia , você precisa ser mais fria. Amanhã te levo lá e faço ela resolver isso com você. Minha princesa não vai ficar sem sua cabeleireira, não mesmo.
:_ você é minha fada madrinha, sabia ?
Olhou o relógio discretamente e pegou a bolsa.
:_ mas agora eu tenho que ir, a, antes que o meu marido acorde e perceba que saí. Amanhã passo cedinho aqui, tá bom? Esteja pronta. A gente vai se distrair... e também começar a colocar seus planos em prática.
Anoite já se aproximava, tingindo o céu com tons alaranjados e trazendo consigo a angústia silenciosa que rondava Otávio e Helena. Aquela seria a última noite juntos antes de Helena voltar para São Paulo, e os dois sabiam que a saudade logo voltaria a apertar o peito.
Sentados no sofá da varanda, com o som suave dos grilos ao fundo, Otávio repousava a cabeça de Helena em seu peito e acariciava seus cabelos com carinho. Seus olhos estavam cheios de ternura, mas também de uma tristeza contida. Ele tentava, pela última vez, convencer a namorada a ficar.
:_meu amor, não vai demorar para gente se ver... e além do mais estou batalhando pelo nosso futuro
Otávio suspirou fundo, apertando de leve a mão dela entre as suas.
:_ minha sereia... aqui você poderia trabalhar com seu pai. A gente poderia se casar. Eu sei que não ganho muito, mas posso cuidar de você. Eu faria qualquer coisa por nós.
:_ meu amor, não repete mais isso... você sabe que minha maior alegria seria ser sua mulher. A gente tá estudando pra construir uma vida juntos, pra casar, ter nossos filhos. A distância é difícil, mas a gente vai se ver todo dia, mesmo que seja por chamada de vídeo.
Otávio abaixou a cabeça por um instante, frustrado com a ideia de não tê-la por perto. Ele levantou o olhar e, com doçura, começou a beijar o rosto de Helena — a testa, as bochechas, a ponta do nariz — como se quisesse memorizar cada detalhe, cada cheiro, cada pedacinho dela.
:_ não é a mesma coisa... é um desafio enorme não sentir seu cheiro todos os dias, não te ter aqui, tão pertinho.
Helena passou a mão pelos cabelos dele com delicadeza, puxando-o para mais perto. Seus lábios se encostaram no ouvido do namorado, e ela sussurrou com um sorriso tímido e apaixonado
:_ eu não resisto a você, minha sereia... vontade de te roubar pra mim igual nos tempos antigos. Te roubar só pra nunca mais ficar longe de você...
Otávio fechou os olhos, abraçando Helena com força, como se o amor pudesse parar o tempo. A noite os envolveu em silêncio, cúmplice das promessas que seus corações faziam.
O casal se despediu com ternura, e era possível quase ouvir a palpitação acelerada de seus corações, sufocados pela tristeza. Cada beijo parecia um pedido silencioso para que o tempo parasse, cada abraço, uma tentativa desesperada de guardar o outro dentro do próprio corpo. As mãos se acariciavam como se quisessem memorizar texturas e gestos. Os olhos diziam tudo aquilo que as palavras não conseguiam.
Helena, com um sorriso doce, notou que Otávio usava o colar que ela havia deixado como lembrança. Seu coração se apertou mais uma vez ao ver aquele gesto de carinho.
:_ eu nunca mais tirei do meu peito, minha sereia
Helena não conseguiu conter a emoção. Uma lágrima solitária escorreu de seus olhos, rolando silenciosa por sua bochecha. Ela tentou disfarçar, respirar fundo, se mostrar forte… mas a tristeza iminente era mais forte do que ela queria admitir.
Aquele nó na garganta crescia a cada segundo. Ainda precisava pegar a estrada de volta para São Paulo, e queria manter-se calma. Porém, a lembrança do mal-estar que sentiu na sexta-feira voltou à sua mente como um sinal, uma pontinha de preocupação que ela insistia em ignorar.
Ainda assim, com o rosto colado ao de Otávio, ela respirou fundo, buscando forças naquele último abraço.
:_ eu fico mais tranquilo em saber que alguém vai te levar pra São Paulo. Tenho medo de você viajar sozinha, ainda mais à noite
Helena sorriu com ternura, entendendo o zelo por trás das palavras.
:_ Foi meu pai quem insistiu. Como estou com meu carro, ele e minha mãe vão me acompanhar até lá. Assim ele aproveita pra matar a saudade do vovô Clóvis
:_ Eu fico despreocupado assim. Não ia me agradar nem um pouco a ideia de um homem te levar sozinho… eu tenho medo de alguém fazer mal a você, meu amor. Você é tudo pra mim
:_ Eu vou ficar bem. E logo a gente vai estar junto de novo, meu amor. Nosso tempo vai chegar
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