sábado, 1 de março de 2025

Corações Invencíveis - 2 temporada



capitulo 6: O Amor Sob Ataque ( parte 4)  


Ana Beatriz saiu da sala de Inês com os olhos marejados. O amargor era visível no rosto abatido, e cada passo que dava carregava o peso da humilhação. Segurava a respiração, tentando conter o choro. Caminhava firme, como quem ainda tenta salvar a própria dignidade no meio do desmoronamento.
Logo à frente, Victor ouviu seus passos apressados ecoando no corredor. Olhou para ela com um semblante frio, quase impassível, mas os olhos traíam o que sentia: decepção, tristeza, uma dor abafada. Ana o viu, e apesar do clima tenso, puxou assunto. Havia química entre os dois. Era algo silencioso, latente, mas ali, naquele momento, tudo se misturava à tensão. 
:_ você pode avisar a Nina que estou esperando-a?
:_ não, não posso
:_ como assim? você trabalha aqui e ela deve estar na ....
:_ essa não é a minha função , Ana Beatriz. E, só pra lembrar: você não é minha patroa. 
Ela engoliu em seco, irritada.
:_ mas ela deve estar ocupada na sala do Tadeu e eu não posso simplesmente invadir a sala
:_ seu Tadeu nem conhece a existência dessa mulher. se quer saber onde ela está vai procurar!
:_ para que essa ignorância comigo ? 
Victor cruzou os braços, os olhos faiscando.
:_ Ignorância? Ana Beatriz, eu tenho mais o que fazer. Esse é o meu trabalho. Eu não sou filhinho de papai que pode se dar ao luxo de ser ocioso porque tem tudo nas mãos. 
Ela ficou estática. A voz embargada pela raiva e a dor. 
:_ você tá sendo ridículo comigo!
:_ quem faz papel de ridícula é você!   olha, você veio até aqui se humilhar pro Otávio? Caramba, você desceu mesmo o seu nível. Veio fazer fofoca sobre a Helena pra quê?
Enquanto falava, Victor ria , mas era um riso amargo, cheio de dor. 
:_ eu pensei que um dia você pudesse tomar juízo… mas eu estava enganado. 
Ana Beatriz arregalou os olhos, surpresa com o tom, com as palavras, com o peso do que ouvia.
:_ você não tem o direito de agir assim. Nós não somos namorados!
:_Nós estávamos juntos até essa sua obsessão pelo Otávio começar!  E eu gostava de você. Era de verdade, Bia. 
Victor sentiu uma onda de emoção tomar seu corpo. Sua voz oscilava, como quem está a ponto de chorar. Mas ele não se permitiu ceder. Continuou. 
:_ era verdadeiro meu sentimento, e você fez questão que terminar por um cara que nunca quis ficar contigo. não somos namorados, e ainda assim até semana passada estava tentando me beijar. 
Victor deu um passo à frente, encarando-a. 
:_  você já se esqueceu de tudo ?
Ana Beatriz balançou a cabeça, tentando encontrar palavras.
:_ não foi assim… você sabia do meu sentimento pelo Otávio. 
:_E você me disse que estava disposta a esquecer e ficar comigo! Disse que queria tentar,   você foi cruel comigo, Bia. Me fez acreditar em algo que nunca teve chance de ser real. E ainda tem coragem de vir aqui, querer atenção, causar tumulto… 
Ela tentou se defender, com um sussurro
:_ eu nunca tive essa intenção, você sabe
:_ não, eu não sei. eu só sei que você que precisa parar de brincar com os sentimentos dos outros.
O silêncio se instalou.  Ana Beatriz o olhou como quem levava um tapa no rosto. Por um instante, quase vacilou nas pernas. Mas permaneceu ali, ferida. E, finalmente, sem respostas.


O horário do expediente já estava terminando e Helena conversava animadamente com as amigas. Era segunda-feira, na semana que antecedia o feriado prolongado de carnaval. As vendas estavam a todo vapor — tanto das fantasias quanto dos ingressos para o baile que elas estavam organizando. O vento soprava a favor. No meio do entusiasmo, Helena puxou assunto com Thainara sobre Felipe. Ela se preocupava com o envolvimento da amiga, já que o rapaz havia demonstrado um caráter bastante duvidoso. 
:_ e você e o Felipe, Nara?
:_ ah, a gente tá saindo 
Helena notou o desanimo na entonação na voz da amiga, mas ainda não sabia o motivo 
:_ e você tá gostando dele, né?
:_ eu tô sim, ele é tipo maravilhoso demais, mas ainda não sei.
:_ tá em dúvidas sobre o sentimento dele?
:_ estou sim
Thainara balançou a cabeça devagar, confirmando. Não precisava dizer mais nada.  , Catarina que ouvia a conversa sem se intrometer, abriu um sorriso irônico. Ela sabia muito bem que a insegurança de Thainara vinha de suas próprias palavras plantadas. Mas, para não levantar suspeitas, entrou na conversa com um ar leve: 
:_ meninas, estava pensando... que tal a gente tomar alguma coisa depois da faculdade? A gente não sai tem um tempo. E como na hora do almoço eu sempre saio com o Nando… 
:_ ai, eu ia adorar amiga, mas eu ainda tô um pouco cansada da viagem, mas podemos marcar para amanhã ou quarta o que acha?
Catarina não gostou da resposta, mas disfarçou com um sorriso acolhedor, fingindo compreensão
:_ claro amiga, vai ser bom termos nossos momentos.
Helena mudou de assunto com um lindo sorriso no rosto 
:_ Mas e aí… a gente ainda não viu nossos looks pra esses dias de carnaval, né? Precisamos tirar um tempo pra isso 
Maitê comentou com um sorriso 
:_ e olha que a gente trabalha no shopping
:_ eu tô tão feliz com tudo e o Tavinho vai vir para festa, junto com a irmã dele e o namorado
Catarina mordeu os lábios, forçando um sorriso. Por dentro, queimava. Odiava ver Helena tão radiante. Lembrou-se do dia em que estava se arrumando na casa da amiga, prestes a irem para a faculdade. O celular de Helena havia vibrado com uma mensagem de voz de Otávio. Curiosa, Catarina viu de relance a foto dele na tela. Aquilo mexeu com ela. Otávio era de fato muito atraente. E por mais que ela não demonstrasse sentia inveja. Uma inveja que crescia toda vez que via Helena feliz.  Catarina, com aquele velho ar de inocência calculada, soltou com suavidade envenenada 
:_ que legal, Lele… Mas acho que o João Paulo não vai gostar nada disso, né?
Helena perguntou franzindo a testa 
:_ o que o nosso professor tem com isso ?
:_ amiga, tá na cara que ele é afim de você. 
Helena não gostou do comentário. Achou inoportuno, desnecessário e, mais uma vez, impróprio. Respirou fundo antes de se impor com firmeza
:_ nada ver isso, Kate. Sério. João é nosso professor na faculdade. Não tenho o menor interesse nele. ele sabe. 
:_ mas ele mesmo já demonstrou  que tem interesse em você
:_ isso foi antes dele saber que sou aluna dele. 
:_ calma, amiga… eu tô brincando. Você sabe disso
:_ eu sei, Kate. Mas olha… eu tô namorando, e todo mundo sabe o quanto eu amo o Otávio. Esses comentários não são legais
Maitê, que guardava suas coisas na bolsa enquanto esperava Helena, se despediu de Thainara com um aceno discreto e ficou ao lado da amiga, como quem assume uma posição.
:_ estou de pleno acordo Heleninha. eu não sei por que a Catarina faz esse tipo de coisa. 
Catarina soltou um suspiro abafado, mas não disfarçou o incômodo. O som foi baixo, mas ainda assim perceptível. 
:_ eu tenho intimidade para brincar com a minha amiga
Maitê insistiu ,mantendo o olhar firme 
:_ mas já deu para você entender que isso não é legal, não acha ?
Helena ouviu tudo com atenção, prendeu o cabelo em um coque simples e bebeu um pouco de sua água antes de finalizar o assunto
:_ a Mai tem razão , Kate. Não é legal. Não faz mais isso, tá? Essa situação com o professor até me constrange… porque eu nunca dei liberdade pra ele.
Catarina respondeu, a, com um meio sorriso que parecia inofensivo.
:_ eu sei Lele, eu estava brincando. mas, se te incomoda eu não farei mais.
:_ E eu agradeço por isso. 
ela então continuou com um tom doce 
:_ me desculpa, madrinha ? Eu sou muito boba… gosto de brincar pra descontrair
Os apelidos carinhosos, a forma suave de falar e o olhar afetuoso formavam uma imagem perfeita — mas manipuladora. Era assim que Catarina atuava: uma máscara de doçura para esconder seu narcisismo. Sabia como inverter a culpa e fazer os outros se questionarem sobre suas próprias reações.   Helena, por sua vez, respirou fundo. Pela primeira vez, não caiu nas graças da “cara de anjo” da amiga. Sentiu a sutileza do golpe disfarçado no "madrinha", um lembrete frio e calculado de que Helena havia aceitado esse papel no casamento com Luiz Fernando. 
:_ tá bom
 Catarina disse , sorrindo com ternura, os olhos brilhando como os de uma criança inocente.
:_ é sério Heleninha. Eu nunca percebi que isso te incomodava. Jamais faria algo que pudesse te magoar. Você é minha melhor amiga 
:_ tá desculpada, não vamos render o climão.
:_ O Nando tá me esperando , a gente se vê na facul ?
:_ sim, eu vou passar na biblioteca.
Catarina se despediu com um beijo no rosto de Helena, como se nada tivesse acontecido. Saiu com a postura leve, como quem carrega um coração limpo. Helena permaneceu por um instante em silêncio, caminhado em direção ao seu carro. Maitê a observava, percebendo que, dessa vez, a amiga tinha visto além da máscara.  
:_ você foi ótima, Lele. 


Após o trabalho, Otávio decidiu aceitar o convite de Victor para tomar uma cerveja no bar próximo à casa dele. Era um lugar simples, com cadeiras de plástico e música ambiente baixa, o tipo de lugar ideal para conversas sem pressa.
Os dois estavam visivelmente abatidos. A visita de Ana Beatriz à fazenda havia deixado marcas em ambos — ainda que por razões distintas. Sentaram-se em uma mesa do canto, pediram uma garrafa de cerveja e serviram-se em silêncio. Victor explica que já sabia do boato que corria no povoado de que Helena estava grávida, mas evitou falar por que além de não saber se é verdade , não queria ser intrometido, Victor finalizou dizendo
:_ e era o que a Bia deveria ter feito
Otávio perguntou, tentando entender melhor o rumo da conversa.
:_ você ficou sabendo pela sua namorada?
:_ sim… a Luly comentou. Mas como a tia dela é uma intrigueira de mão cheia, eu nem sabia se levava a sério. Não queria trazer isso até você sem ter certeza.
Otávio encostou-se no encosto da cadeira, em silêncio. A cerveja desceu amarga.
:_ por que a Helena não me disse nada?
:_ cara, você nem sabe se é verdade. Foi um boato que surgiu no povoado. Você não acha que, se a Helena realmente estivesse grávida… ela não  teria te contado? 
Otávio ficou calado por alguns segundos, encarando o rótulo molhado da garrafa. Por mais que Victor tivesse razão, a dúvida estava plantada. E a presença de Ana Beatriz naquele dia parecia agora ainda mais estratégica, ainda mais nociva.
:_ sim, eu acho que sim
:_ é claro que sim. Otávio, o que essa menina quis foi destilar veneno. Não caia no jogo dela.
:_ mas e o teste de gravidez?
:_ isso pode ser mentira. Você realmente acha que esse povo vai prestar atenção em tudo que cada pessoa compra na farmácia do bairro? 
Otávio riu com descrença, mas havia angústia no fundo do riso.
:_esse povo é realmente fofoqueiro
:_ não se deixe levar pelo veneno da Bia. Você sabe que não é de hoje que ela não gosta da sua namorada. Vive tentando difamar a Helena.
:_ eu não sei por que ela é assim
:_ por que ela é . olha, a Helena te ama e você sabe. se ela estivesse grávida, ela te contaria. Além do mais… você acha que o seu Tadeu não iria te cobrar um casamento se a filha dele estivesse esperando um filho seu? 
Otávio abaixou a cabeça, pensativo. O coração apertado, mas sentindo uma ponta de alívio ao ouvir aquilo de alguém de fora.
:_ me casar com a Helena seria uma grande felicidade. E termos um filho… nossa, seria a realização de um sonho.
Victor assentiu, com um leve sorriso no canto dos lábios.
  :_ Então não deixa isso te tirar o foco. Helena é direta. Se fosse verdade, ela já teria falado contigo. E a Bia… bom, a Bia tem o dom de se fazer presente do pior jeito possível.
Victor abaixou o olhar enquanto levava o copo à boca e degustava a cerveja. Otávio o observou por um instante, depois quebrou o silêncio
:_ A Bia não ganha nada com isso. Porque… se a Helena estivesse mesmo grávida, seria uma grande felicidade pra mim.
Victor soltou um riso seco, balançando a cabeça.
:_ mas você sabe qual a intenção da Bia, não sabe?
:_ é causar problemas, é claro. Ela gosta de mexer comigo, me colocar contra a minha namorada… me testar. 
Victor olhou para o copo, pensativo.
:_ mas isso não é só com você, Tavinho. Sempre foi sobre ela. Quem ela é, o que ela quer, o que ela perde… Sempre foi ela no centro. Ela não sabe amar, só sabe possuir. 
O silêncio voltou, denso, desconfortável. Dessa vez, foi Otávio quem encheu os copos novamente.
:_ você ainda pensa nessa menina, não é?
Victor demorou a responder. Olhou para a espuma do copo, depois para o amigo.
:_ é. . Não posso negar. Não é só atração… É algo que eu mesmo não entendo. Mas tô disposto a esquecer. Ela não merece nada de mim.
Otávio respirou fundo, encostou-se no encosto da cadeira e, após um gole, falou com sinceridade
:_ vou te dar um conselho, parecido com os que você já me deu
Victor ergueu o olhar para ele, atento.
:_ você uma mina massa ao seu lado. Que te ama de verdade. Não deixa que a Bia destrua isso. A Luísa é bonita, engraçada, pé no chão… ela é do bem, cara. E ela gosta de você. 
Victor suspirou pesado, encarando a própria contradição.
:_ É isso que mais me incomoda… Eu tenho uma mulher maravilhosa. E mesmo assim essa fedelha da Bia, inconsequente, leviana, não sai da minha cabeça.
Otávio assentiu, compreensivo.
:_ Eu entendo. Mas você sabe que ela não vai mudar, né?
:_  Sei… E talvez esteja na hora de eu mudar, antes que perca quem realmente vale a pena. 




Luiz Fernando estacionou o carro em frente à faculdade e olhou discretamente para Catarina. Desde que buscou a moça  no trabalho, notava algo estranho nela. A noiva estava mais calada do que o habitual, com um semblante fechado, como se lutasse para disfarçar algo — mas naquela noite, não estava conseguindo.
Na verdade, Catarina estava irritada. Sentia raiva de Helena por ter dado razão a Maitê. Como ousava ficar do lado daquela idiota? Mas mais do que isso, o que a incomodava era o medo. E se Helena se afastasse? E se aquela amizade desmoronasse agora, antes do casamento?
Não era afeto. Nunca tinha sido. Não era sobre amizade, nem sobre gostar da Helena — era sobre o que Helena podia oferecer. Até colocar a aliança no dedo, precisava continuar próxima. Fingir, atuar, sorrir. 
Luiz Fernando tentou quebrar o silêncio: 
:_ você está bem , meu amor? 
:_ estou sim meu amor
enquanto arrumava seu cabelo por de trás de sua orelha, comentava com um olhar preocupado e apaixonado 
Ele franziu o cenho, preocupado.
:_ Está distante, minha linda… 
:_ não , meu amor… tô só com uma dorzinha de cabeça chata. Vou tomar um remedinho.
:_ você não comeu nada, depois do trabalho
:_ não estou com fome meu amor
Ele segurou a mão dela com carinho.
:_ se quiser podemos ir para sua casa, até você melhorar amor 
:_ Meu amor. Eu adoraria… mas tenho umas coisas pra entregar antes do feriado. Você entende, né? 
Luiz Fernando se aproximou e a beijou nos lábios com doçura, sem desconfiar de nada. Seus olhos brilhavam com ternura.
:_ Claro, minha linda. Você é muito dedicada. Mas… se não se sentir bem, me avisa. Vamos pra casa, tá bom?
:_ eu te amo tanto, meu amor… você é tão perfeito comigo. O príncipe dos meus sonhos
:_ você é minha princesa linda, a mulher da minha vida
Catarina sorriu, doce e serena, e assentiu com um olhar apaixonado. Seu rosto transmitia leveza, encantamento, amor.  Mas por dentro, só queria que tudo andasse logo conforme seu plano.

Helena estava na biblioteca revisando algumas atividades programadas para aquela semana. A agenda estava cheia, mas ainda assim ela se sentia feliz. Seu semblante apaixonado e realizado contrastava com a noite abafada de segunda-feira. O céu lá fora estava nublado, anunciando chuva, mas o calor parecia não ceder.
 Ela usava uma blusa preta com alças finas, de modelagem transversal, discreta, sem mostrar o colo. A calça jeans flare clara alongava a silhueta, e nos pés, um sapato aberto completava o visual prático e elegante. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, revelando a nuca levemente suada pelo calor. Helena estava concentrada, digitando algo no notebook enquanto folheava anotações ao lado. Estava tão focada que não percebeu a aproximação de uma presença.
Foi surpreendida por uma voz masculina, levemente rouca, com uma tonalidade sedutora que a fez arrepiar — ainda que contra a vontade. 
:_ Helena?
ela suspirou , o sentindo o ar ao redor mudar. Um perfume masculino invadiu seu espaço: notas cítricas, marinhas, um toque de gel de cabelo fresco… e chiclete de menta. Era um cheiro quase invasivo. Familiar.
Virou-se, já com um pressentimento ruim no estômago. E não estava enganada.
Felipe Parado ali, com as mãos nos bolsos da calça e o sorriso que oscilava entre o galante e o cínico, ele a observava como se tivessem intimidade.
:_ ah , oi
:_ Não sabia que a biblioteca era seu lugar favorito da faculdade
Helena franziu o cenho, tentando não transparecer o incômodo que sentia.
:_ Pois é. Tenho muitas coisas acumuladas essa semana.
:_ A semana começou agora. Você é bem ocupada, né?
Helena respondeu sem entusiasmo, voltando os olhos para a tela do notebook.
:_ sou sim
Mas ele não se deu por vencido.
:_ você ficou linda, com o cabelo assim . Diferente… mas linda.
:_ E você? O que faz aqui?
:_Ah, vim pegar um projeto que deixei impresso.
Helena deu um sorriso apático, sem dar muita atenção, voltou o olhar para o computador, mas sabia que a conversa não acabaria ali. Felipe puxou uma cadeira para a mesa onde Helena estava sentada e iniciou um assunto. Ele sabia que estava deixando a moça constrangida, mas não pararia até ela ceder. Ele tinha que cumprir a parte do acordo com Dolores, embora gostasse de estar com a Thainara, gostava mais ainda da ideia de ter carta branca com a mãe e acreditava que Thainara pudesse perdoá-lo afinal “há mulheres que, quando apaixonadas, são capazes de tudo.”
 Enquanto olhava Helena de perfil, reparou nos pelos dourados de seus braços que, mesmo poucos, eram visíveis, nos lábios carnudos, delicados e ruborizados, na forma como ela suspirava — quase via o arrepio na sua nuca. Enquanto a observava, pensava em silêncio: “Não seria sacrifício algum conquistar essa gatinha, ela é linda da cabeça aos pés.”
:_ eu não te perguntei, você faz curso de quê mesmo? 
:_ Ciências econômicas, e você?
:_Ah, eu tô cursando o pré-vestibular.
:_ é, a Nara comentou com a gente, mas eu achei que era brincadeira.
:_ por que , gatinha?
Helena virou a cadeira para o rosto de Felipe, não acreditava no quão ele era cara de pau. Piscava e lubrificava o lábio inferior com a língua, que rapidamente ela controlava a respiração.
:_ não é legal você me chamar assim, sendo namorado da minha amiga
:_ A Nara e eu não estamos namorando, a gente só fica. Não temos um compromisso.
:_Independente disso, eu não acho legal. Mulher nenhuma acha. Se você tá com ela, não precisa me tratar dessa forma.
:_Você é mesmo uma gata, e você sabe bem disso. Eu vejo como anda, como olha, como sorri… é totalmente sensual. E eu acho que você gosta disso.
:_ que coisa mais sem nexo você tá dizendo ? tá prestando muita atenção em mim, cara se enxerga!
:_ se acalma, não precisa de estresse eu não devo ser o primeiro cara que te elogia
:_ Eu não quero ser elogiada por você! Para de prestar tanta atenção em mim e presta atenção em quem realmente deveria: na Nara! Aliás, você nem merece uma menina como a Nara.
Helena guardou seus materiais na bolsa, entregou um pen drive para a bibliotecária e avisou que no dia seguinte passaria ali.


A noite de segunda-feira estava como o esperado — em São Paulo, em São Jorge — todos seguiam suas rotinas. Bruno estava tentando descansar enquanto jogava seu jogo favorito no videogame. A tela do celular brilhou, e apareceu uma notificação do WhatsApp. Ele estava distraído e não queria abrir, mas o celular insistia em brilhar, então olhou. Havia duas mensagens de Gabriela. Ao abrir, descobriu que o exame de DNA de Cecília já havia sido marcado. Finalmente, aquela aflição estava próxima de chegar ao fim: eles saberiam se Bruno era ou não pai de Cecília.
Por um lado, sentia-se aliviado. Por outro, lembrava que Gabriela foi embora impedindo-o de ver Cecília nascer, de acompanhar a gestação, de ver o primeiro passo, de acompanhar toda a evolução da filha. 
 Gabriela sabia que aquilo era um erro e que Bruno tinha o direito de saber sobre o que os pais fizeram por suas costas , sabia que o apoio deles iria lhe ajudar muito. 
Bruno então decidiu avisar Marco Antônio, que além de patrão era advogado e muito amigo da família. Eles teriam que viajar no dia seguinte. Ficou preocupado, não apenas com o exame em si — ele não sabia como iria reagir ao se encontrar novamente com o primeiro amor da sua vida. Sabia também que devia uma explicação a Inês. Por isso, resolveu ligar para ela. A viagem não seria longa, ele voltaria no mesmo dia, mas queria deixá-la o mais segura possível.
´´ eu espero que ela entenda e não pense que estou indo viajar para ver a Gabi, nem nada assim. eu, estou e quero estar apenas com a Inêsinha.´´ foi até o contato da namorada e discou para telefonar, Inês que já queria falar com ele , a respeito da visita de Ana Beatriz atendeu prontamente.
:_oi meu gatinho
:_ oi minha pequena , como está?
:_ eu tô bem e com você? 
:_ tô bem também, jogando meu play 
:_sentiu saudades de ouvir minha voz?
:_ eu sempre sinto sua falta minha pequena e como hoje ainda não haviamos nos falado
:_ eu também e olha que bom que me ligou
:_ eu te liguei , por que queria te contar uma coisa
Inês percebeu que a voz do namorado estava diferente. Ela queria falar sobre Ana Beatriz, mas, ao notar o tom de Bruno, decidiu deixá-lo continuar.
:_ você já sabe que estamos no processo para realizar o exame de dna da filha da Gabriela
:_ sei sim 
:_ amor, eu soube a pouco que amanhã vai ser realizado e eu vou precisar ir amanhã na cidade dela, vou com Marco Antônio que é meu advogado nesse caso
:_ ah , eu entendi. 
Inês pareceu distante. Sabia, desde o início, que havia a possibilidade de Bruno ser pai, mas ainda assim aquela situação era desconfortável. Quando começou a namorar com ele, nem ele sabia da existência de Cecília. 
:_ eu quis te comunicar, minha pequena, porque não quero você insegura por algo que já passou. Vai ser rápido, e amanhã mesmo eu estou de volta. Não quero motivos para desconfianças ou desentendimentos no nosso relacionamento.
Ela ficou alguns segundos em silêncio, tentando assimilar tudo o que estava prestes a acontecer. Suspirou e, com a voz calma e leve, comentou 
:_ não vai haver desentendimentos meu amor, eu confio em você. e agradeço a honestidade, por ter me ligado 
:_ eu sei que não é uma situação confortável para você e agradeço mesmo todo seu apoio
:_ não precisa agradecer
:_ você gostaria de me falar algo?
:_ ah , eu gostaria de falar com você apenas isso, eu tava com saudades
:_ eu também minha linda, quer sair amanhã anoite ou jantar comigo na quarta? o que acha?
:_ eu adoraria 
Inês queria muito falar sobre Ana Beatriz, mas diante daquela situação decidiu esperar. Sabia que a possível paternidade já era um peso emocional para Bruno — e acrescentar mais um problema naquele momento seria desnecessário. Certas batalhas podem esperar.




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