capitulo 6: O Amor Sob Ataque ( parte 6)
Enquanto ela seguia em direção ao estacionamento, João deixou alguns papéis na sala dos professores, bateu o ponto e logo a alcançou.
Helena caminhava apressada, mas sentia os pés pesados, como se o chão a puxasse para baixo. O mal-estar voltava — aquela sensação horrível, o nó na garganta, o enjoo. Será que é ansiedade? — pensava em silêncio.
:_ obrigada por aceitar falar comigo , Helena.
:_ tudo bem, mas como eu disse precisa ser breve
:_ Eu tentei falar com você durante o fim de semana todo, mas imagino que não tenha visto minhas mensagens...
João tentou parecer tranquilo mas a verdade é que o fato de Helena ter lhe ignorado o tirou do sério , enquanto isso Helena foi firme
:_ eu vi sim, mas eu estava aprontando meu final de semana
João abaixou o olhar, arrependido.
:_ Me desculpe se te incomodei. Só insisti porque era algo que eu realmente precisava dizer.
Enquanto conversavam, alguns carros deixavam o estacionamento.
Mas um deles, com os vidros escurecidos, permanecia parado. Lá dentro, o som de uma respiração abafada se misturava ao leve zumbido do painel aceso — alguém observava, à distância.
Mas um deles, com os vidros escurecidos, permanecia parado. Lá dentro, o som de uma respiração abafada se misturava ao leve zumbido do painel aceso — alguém observava, à distância.
Helena manteve a postura, tentando parecer indiferente
:_ Eu entendo, professor. Mas peço que não insista mais. Se tiver algo pra falar, podemos conversar em aula. Eu estava com meus pais, meus amigos... e meu namorado.
João ouvir a última palavra, João não conseguiu esconder o incômodo. Ainda assim, procurou se defender
:_ peço mais uma vez desculpa por ter lhe incomodado, era algo necessário.
:_ então evite , podemos falar apenas em aula. Eu já pedi uma vez, e peço novamente: não quero que isso ultrapasse a linha entre aluno e professor.
:_ mas era exatamente sobre a faculdade que queria falar, Não era nada pessoal. Não precisa ficar na defensiva, Helena.
Helena questionou desconfiada
:_ sobre a faculdade?
:_ Sim. E, antes que você pense outra coisa, eu já entendi que você namora. Não estou tentando nada
ele respirou fundo e continuou
:_ você achou que eu estava?
Helena sentiu o rosto corar. Olhou para o chão, sem saber o que responder. João esboçou um sorriso discreto e completou:
:_ Helena , não pense que é irresistível. Embora, sim, seja uma mulher linda, eu sei respeitar as pessoas. As mulheres.
:_ desculpa professor...
Helena sentiu-se envergonhada sem saber o que falar e João continuou
:_ como eu disse na aula , alguns trabalhos me chamaram a atenção. E pretendo indicar certos alunos para estágio. Pensei em você, porque sei que é uma aluna responsável e dedicada.
:_ Eu... eu não sei o que dizer, professor. Peço até perdão por ter te julgado errado.
:_ não peça, não precisa.
:_ Mas, em relação ao estágio, fico lisonjeada. De verdade. Só que, infelizmente, eu não vou poder aceitar. Eu já trabalho, e isso toma boa parte do meu tempo... Mas posso te indicar algumas pessoas, se for possível.
:_ que pena, Foi justamente o seu trabalho que mais me chamou a atenção.
Helena sentiu o rosto queimar. O coração acelerado, as mãos frias. Estava terrivelmente envergonhada.
João a observava em silêncio, com um sorriso discreto nos lábios — uma mistura de admiração e confusão. Percebia o quanto mexia com ela, e isso o deixava dividido.:_ de verdade , eu fico feliz e muito agradecida , mas não vou poder aceitar
:_ nem nas férias?
:_ as férias ainda estão longes e eu também pretendo ir a fazenda
O estacionamento estava quase vazio. As luzes amareladas piscavam de vez em quando, lançando sombras longas no chão molhado. Helena falava baixo, a voz trêmula, enquanto ajeitava a bolsa no ombro. João, encostado em um carro ao lado, a observava em silêncio — os olhos escuros, atentos, como se tentassem decifrar cada movimento dela.
enquanto conversavam Helena percebeu um carro preto andando, um ford que ia devagar ficou hipnotizada com a imagem , foi então que ela até que reconheceu um rosto. O coração disparou.
Antes que pudesse reagir, o ronco do motor cortou o ar. O Ford acelerou de repente, os faróis a cegando por um instante. O tempo pareceu se arrastar. Ela só teve tempo de sentir o grito preso na garganta quando o carro veio em sua direção. Tudo aconteceu em segundos.
João reagiu por instinto — agarrou Helena pela cintura e a empurrou com força, jogando os dois contra o chão. O corpo dela bateu contra o dele, o som do impacto se misturando ao rugido do motor e ao farfalhar dos pneus queimando o asfalto.
O Ford passou raspando, por pouco não os atingindo. O cheiro de gasolina e borracha queimada pairou no ar.
Helena abriu os olhos devagar, ainda sem entender. João estava por cima dela, o rosto tão próximo que ela podia sentir o calor da respiração dele. Os olhos dele estavam cravados nos dela — intensos, dominados pela adrenalina e algo mais profundo, quase perigoso.
Do alto do poste, uma câmera piscou discretamente, registrando tudo.
O carro havia fugido, mas a placa estava lá, esperando para revelar o que — ou quem — estava por trás daquela noite.
O carro havia fugido, mas a placa estava lá, esperando para revelar o que — ou quem — estava por trás daquela noite.
:_ você está bem Helena?
:_ eu... eu... eu acho que sim.
Ela passou a mão pelo braço arranhado.
:_eu só me arranhei um pouco, você salvou a minha vida, eu poderia ter...
:_ não pense nisso agora, que loucura. isso não parece acidental
Helena completou, a voz trêmula:
:_ não. não foi mesmo, foi criminal, isso foi um atentado
João ficou confuso. Algumas pessoas começaram a se aproximar, tentando entender o que havia acontecido. Uma voz interrompeu
:_ eu anotei a placa!
Uma outra professora se aproximava, e falava
:_ Helena já chamamos a ambulância como você se sente?
:_ eu tô bem , não precisava
:_ você está com o braço arranhado , precisa sim está machucada
João perguntou, sério
:_ você conhece essa pessoa ?
:_ sim, infelizmente sim.
Helena respirou fundo, incrédula
:_ Eu não consigo acreditar que isso aconteceu.
João assentiu, decidido:
:_ Você precisa ir ao pronto-socorro. E também registrar um boletim de ocorrência. Se você tem certeza de que foi um atentado, não podemos ignorar.
No outro lado da cidade, Vera estava nervosa, desolada e visivelmente embriagada.
Com o carro estacionado, batia no volante, sem ar, gritando e se xingando — e xingava Helena e todos ao redor.
:_ maldita garota ! Que raiva! Eu não consegui... e agora, o que faço?
Ela chorava, desesperada. As mãos tremiam, e ela não sabia qual passo dar.
Seus planos haviam fracassado, e João, naquele momento, era um verdadeiro anjo da guarda para Helena.Mais do que isso, ele se tornava testemunha de tudo.
Helena insistia em não ir ao hospital.
Ela havia reconhecido Vera — mesmo com o carro alugado, não havia como não identificá-la. Por um lado, não queria que aquela perseguidora ficasse impune; por outro, não queria preocupar o avô ou os pais. Estava assustada, o coração pulsando como nunca.
Então, pediu que João a acompanhasse até o hospital.
:_ eu não quero ir de ambulância , eu estou bem graças a Deus e a você
João a observava atentamente, estudando cada gesto.
:_ mas entendo que preciso ir ao hospital. Não posso ser omissa com essa mulher que atentou contra a minha vida.
:_ não deve mesmo
:_ então , se não for pedir muito, e sem querer incomodar, peço que me acompanhe até lá. Só para eu poder levar meu carro. Não quero preocupar meus avôs, nem meus pais.
Aquelas palavras tocaram o coração de João. Pela primeira vez, percebeu que, por baixo de toda aquela beleza, havia uma menina doce, gentil e amorosa, que amava e se preocupava com a família.
:_ claro que posso te acompanhar Helena, mas por favor pense em você primeiro
:_ tá bem
Helena avisou que iria com o próprio carro, e que o professor a acompanharia. Estava bem, apesar de emocionalmente abalada e com alguns arranhões no braço, nas costas e na barriga.
Naquele momento, toda a faculdade já sabia do ocorrido.
pegou o material às pressas e saiu correndo para encontrar Helena. Estava desesperada, e suspirou de alívio ao ver a amiga aparentemente bem.
se aproximou beijando o rosto da amiga
:_ Heleninha
Helena, com os olhos cheios de lágrimas, abraçou forte a amiga e confessou entre soluços:
:_ Amiga... foi a Vera. Ela tentou me atropelar. Se não fosse o João, eu não sei o que teria acontecido comigo.
Maitê a abraçou ainda mais firme, tentando transmitir calma.
:_ vamos , você não pode deixar isso passar essa mulher passou de todos os limites
:_ nos vamos ao hospital, me acompanha amiga?
:_ claro que sim, seria bom o professor dirigindo você não está bem.
Aquilo, mesmo sem querer, frustrou João.
Ele adorou ser visto como o anjo protetor — o anjo da guarda de Helena — e queria acompanhá-la, estar ao lado dela, apoiá-la diante dos pais e dos avós. Mas com Maitê junto, sabia que seria um obstáculo entre os dois. Ainda assim, sorriu e respondeu:
:_ claro... vamos, meninas.
Vera decidiu se esconder em seu flat.
Embriagada, chorando e visivelmente abalada, não tinha coragem de encarar o filho. As mãos tremiam, o rímel borrado manchava o rosto.
Com os dedos ainda trêmulos, abriu a porta e foi direto até a adega. Pegou uma garrafa, arrancou a rolha com pressa e bebeu — um gole, depois outro. E mais outro. Como uma compulsiva, não conseguia parar.
Entre lágrimas e gritos de ódio, xingava Helena, como se as palavras pudessem apagar o que havia feito.
O som de seus próprios soluços ecoava pelo flat, misturado ao barulho do vidro batendo na mesa e ao cheiro forte de álcool no ar.No carro, Helena comentou que havia visto o rosto de Vera — e que nele se refletiam a vingança e a amargura.
Deitada , com a cabeça apoiada no ombro de Maitê, suspirava lentamente, enquanto João a observava pelo retrovisor com um olhar misto de preocupação e carinho.
:_ se eu soubesse que essa mulher teria essa coragem eu já teria pedido uma ordem de restrição no dia que ela foi me procurar, mas também não sei se conseguiria
Maitê apertou as mãos da amiga, num gesto de apoio.
:_ eu sei que sim, amiga. E tenho certeza de que você vai conseguir muito mais que isso. O que essa mulher fez foi cruel, criminoso e desesperador.
Alguns minutos depois, o carro parou. João estacionou e entregou as chaves a Helena. As portas automáticas do pronto-socorro se abriram com um som agudo.
Helena entrou primeiro, amparada por João e seguida de perto por Maitê, que ainda tremia, segurando o celular com força. O hospital estava quase vazio, o eco dos passos se misturando ao zumbido das luzes brancas.
Helena tentava manter a postura, mas a respiração denunciava o nervosismo. A blusa rasgada no ombro e o braço o ralado deixavam claro que o susto havia sido real. João não se afastava nem por um segundo, o olhar atento, o maxilar travado.
ele disse, direto, ao se aproximar da recepcionista
:_ Ela foi vítima de tentativa de atropelamento, que fugiu sem prestar socorro
A funcionária assentiu, já digitando rápido. perguntou, enquanto encaminhava para a triagem
:_ Ela bateu a cabeça? Perdeu a consciência?
:_ não, graças a Deus não. mas ela sofreu alguns arranhões, no braço, joelho, cotovelo
Uma enfermeira a conduziu para a triagem , e em seguida foi pedido um raio x
:_ Vamos pedir um raio-x do ombro e do joelho, só pra garantir
:_ tudo bem
:_ E você vai ficar um tempo de observação, até sair os resultados
Helena ficou na observação acompanhada de Maitê, João aguardava do lado de fora, algum tempo depois , a médica voltou com do raio x e pediu que elas a- acompanhassem ao consultório.
:_ Nenhuma fratura. Só escoriações e um bom susto. vou passar uns remédios só para evitar o machucado infeccionar e uns comprimidos tá ? não vai precisar ficar internada
As meninas respiraram aliviadas.
:_ graças a Deus
:_ obrigada , doutora.
Antes de saírem , um policial chamou por Helena que já aguardava na recepção, avisado pela direção do hospital.
:_ você acredita que foi um atentado ?
:_ acredito que sim
:_ A senhora vai precisar formalizar um boletim de ocorrência. Mesmo que não tenha sido intencional, omissão de socorro é crime.
Helena respirou fundo, tentando se manter calma.
:_ foi um atentado, eu tenho certeza. Mas gostaria de formalizar amanhã. Hoje... eu só preciso descansar.
:_ tudo bem , mas preciso tomar algumas informações
No caminho para casa, Helena ligou para Quitéria, avisando o que havia acontecido. Pediu que preparasse um chá para os avós e tentasse mantê-los calmos.
João, ao lado, observava em silêncio, admirando o carinho que ela tinha pela família — mesmo machucada, ainda pensava em confortar os outros.
Quando chegaram à casa dos Reis, João acompanhou as meninas até a sala.
Clóvis, que aguardava ansioso, levantou-se assim que percebeu que a neta ainda não havia chegado. Ao vê-la entrando, suja, com a blusa rasgada e o olhar abatido, o coração disparou. Correu ao encontro dela.
Perguntou aflito
:_ minha filha, o que aconteceu ?
Helena tentou manter a voz calma, para não assustá-lo.
:_ não foi nada sério vovô, só um acidente
A voz dele oscilava
:_ meu Deus filha, sofreu um acidente?
:_ não , vovô. Foi na saída da faculdade... mas foi um acidente, e eu tô bem, graças a Deus. Foram só uns arranhões.
ele murmurou, passando a mão pela cabeça.
:_ meu Deus filha. Quitéria, busque um chá! E um remédio pra nossa Heleninha!
Nesse instante, Assunção descia as escadas, atraída pelo burburinho. Helena estava sentada numa cadeira, Maitê ao lado, e João permanecia de pé, desconcertado, sem saber o que dizer.
:_ o que tá acontecendo aqui ?
:_ nossa neta sofreu um acidente, Assunção
perguntou Assunção, com a voz firme e o semblante frio.
:_ e como foi isso ?
:_Foi um acidente, como eu disse. Um carro quase me atingiu... mas graças ao João não foi nada demais.
Clóvis se aproximou e a abraçou com ternura. Conhecia bem a neta — desde menina sabia quando algo a estava perturbando.
:_ e quem fez isso com você minha filha ?
Helena hesitou por um segundo, depois respondeu
:_ vovô... foi a Vera D’Avilla. Uma mulher com quem o Renato, meu ex-namorado, se envolveu. Mas graças ao João — meu professor — não aconteceu nada grave. Foram só uns arranhões.
Clóvis fitou João com um olhar misto de gratidão e medo.
:_ eu não como agradecer por ter ajudado a minha neta, rapaz.
João esboçou um sorriso contido, tentando disfarçar o nervosismo.
:_ não foi nada senhor. Helena é uma aluna e uma grande amiga minha
Helena sorriu em direção a João. Levantou-se devagar e o abraçou — um gesto simples, mas que o fez gelar. O toque suave da pele dela percorreu-lhe o corpo como um arrepio inevitável.
:_ mais uma vez eu agradeço de todo meu coração
Clóvis observava a cena com ternura e seriedade.
:_ se essa mulher realmente atentou contra a sua segurança, precisamos oficializar um boletim de ocorrência, Helena. Assim as investigações poderão começar. Vou falar com o advogado da família e também preciso comunicar seus pais.
Helena respirou fundo, o olhar doce, mas firme.
:_ Vovô, eu não gostaria que falasse com meus pais... já é o bastante assustar vocês. Não quero preocupá-los, nem causar mais sofrimento.
:_ eu te entendo filha, mas eles são seus pais. E se fosse comigo, eu gostaria de saber. Tenho a obrigação de cuidar de você e garantir a sua segurança, minha menina.
Helena assentiu entendendo beijou a testa do avô em agradecimento, João então se despediu
:_ Agora que Helena e Maitê estão em segurança, eu preciso ir. Mas fico à disposição — sou testemunha do que aconteceu. Tenho certeza de que as câmeras da faculdade devem ter registrado alguma coisa, e já informaram a placa do carro.
:_ mais uma vez agradeço João e por favor o motorista do meu avô vai leva-lo para casa
:_ não precisa Heleninha eu posso pedir um uber
Clóvis tomou então a frente
:_ meu jovem aceite por favor que meu motorista lhe leve é o mínimo que posso fazer em agradecimento .
João hesitou por um instante, mas diante do olhar de Clóvis e do sorriso de Helena, acabou cedendo.
:_ Está bem... muito obrigado, senhor dos Reis
Helena o acompanhou até a porta, e quando ele se virou pela última vez, os olhares se encontraram — longos, silenciosos e cheios de algo que nenhum dos dois sabia nomear.






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