capitulo 6: O Amor Sob Ataque ( parte 7)
Helena o acompanhou até a porta, e quando ele se virou pela última vez, os olhares se encontraram — longos, silenciosos e cheios de algo que nenhum dos dois sabia nomear.
Assunção permanecia firme — fria, quase imóvel. Observava tudo de longe, sem trocar uma única palavra, irredutível diante da situação. Clóvis, em silêncio, não conseguia esconder o olhar de reprovação.
Como ela podia ficar assim? Sua neta — a menina que vira nascer, crescer e que sempre estivera ao lado deles — acabara de sofrer um atentado. Poderia ter se machucado gravemente... poderia ter perdido a vida. E, mesmo assim, Assunção estava ali, sentada no sofá, as pernas cruzadas, o olhar fixo e vazio, sem demonstrar reação, sem dizer nada.
Como ela podia ficar assim? Sua neta — a menina que vira nascer, crescer e que sempre estivera ao lado deles — acabara de sofrer um atentado. Poderia ter se machucado gravemente... poderia ter perdido a vida. E, mesmo assim, Assunção estava ali, sentada no sofá, as pernas cruzadas, o olhar fixo e vazio, sem demonstrar reação, sem dizer nada.
Helena, percebendo o incômodo do avô, o abraçou com ternura.
:_ Eu vou descansar, vovô... a Maitê vai comigo.
Clóvis segurou as mãos dela com carinho.
:_ claro, minha filha. Ainda hoje falarei com o advogado da família, deixarei um recado na casa dos seus pais e, amanhã bem cedo, iremos juntos à delegacia civil.
Helena suspirou, cansada.
:_ Se o senhor acha necessário, vovô...
:_ É sim, minha filha. Embora eu não queira assustar seus pais, isso é o certo a ser feito.
:_ vou descansar com a Maitê vovô
:_ se precisar nos chame estarei sempre por vocês , filhas lindas
:_ obrigada vovôzinho
:_ te amo filha.
Enquanto Helena subia as escadas, Assunção permaneceu imóvel. O som dos passos da neta ecoou pela casa, mas ela continuou ali — rígida, impassível.
:_ Quitéria , por favor
:_ sim , senhor Clóvis
:_ peço que tente falar com o senhor Figueroa , ou deixe um recado para que amanhã na primeira hora ele possa estar aqui
:_ claro senhor
:_ enquanto isso vou ligar para a casa do meu filho
:_ com licença senhores
Quando Quitéria se afastou, o silêncio se instalou novamente. Clóvis olhou fixamente para Assunção, que tomava calmamente uma xícara de chá — como se nada tivesse acontecido.
:_ é incrível a sua frieza , não percebe o que aconteceu com a nossa neta?
Assunção suspirou com rancor e disse
:_ E o que quer que eu faça, Clóvis? Tudo isso aconteceu porque Helena se envolveu com qualquer um. Agora, a mulher, a amante — seja lá o que for — ficou enciumada.
:_ A culpa não é da nossa neta. Você sabe que Helena é uma moça íntegra, honesta. Esse rapaz, o Renato, sim, é quem não tem caráter. Mas não é culpa dela.
Assunção ergueu o queixo, amarga
:_ É sim. Ela colhe as consequências das escolhas que faz. Vive se envolvendo com qualquer um… Primeiro Renato, o peão da fazenda, agora esse professorzinho. Se tivesse arrumado um bom marido, nada disso teria acontecido.
Clóvis balançava a cabeça negativamente
:_ Eu não posso acreditar que você se tornou essa mulher cruel. Que não sente um pingo de carinho pela própria neta!
Ela então ironizou
:_ Cruel? Eu apenas digo a verdade. Vai saber se ela já não está se deitando com esse professor que você tanto defende.
O golpe foi baixo demais. Clóvis levantou-se, firme, a voz grave ecoando pela sala
:_ Cale a boca, Assunção! Fique quieta e não ouse manchar o nome da nossa neta, que é uma moça digna.
ele então continuou
:_ e Eu já decidi !Amanhã vou conversar com os advogados. E assim que Helena se formar… ou se casar… eu volto para a fazenda.
Fez uma pausa, respirou fundo.
:_ Se quiser ficar aqui, fique. Mas saiba: nós vamos nos divorciar.
Clóvis virou-se e subiu as escadas lentamente, sentindo o peso da decepção e da dor.
João chegou em casa e foi direto para o quarto. Jogou as chaves sobre a cômoda e, sem acender todas as luzes, retirou a camisa social azul. Estava suja, úmida e ainda carregava o perfume suave de Helena. Aproximou o tecido do rosto — inalou o aroma com os olhos fechados — e um arrepio percorreu-lhe o corpo.
Por um instante, o cansaço desapareceu. Diante do espelho, observou o próprio reflexo: o cabelo bagunçado, o olhar escuro e uma expressão que misturava satisfação e desejo. Um sorriso lento e audacioso surgiu em seus lábios.
João murmurou em voz baixa, quase num sussurro.
:_ você ainda será minha, Helena. eu vou saber como te conquistar ... e assim corrigir um grande erro do passado.
O som da água do chuveiro preencheu o silêncio do quarto, mas a mente de João continuava presa na lembrança dela — o toque, o medo, o olhar confuso. E, pela primeira vez, ele sentiu que o destino estava ao seu favor.
Helena , em casa, tomou um banho quente e demorou-se sob a água, tentando afastar o peso do dia. Ao sair, envolveu-se em uma toalha e se olhou no espelho. Os arranhões no braço e na barriga estavam mais feios do que imaginava. Um aperto subiu-lhe à garganta.
Helena Murmurou quase sem voz
:_ está muito feio !
Maitê, que vinha atrás com a pomada nas mãos, tentou amenizar
:_ está, mas logo vai cicatrizar, amiga. Passe essa pomadinha e tome os remédios. Vai ficar tudo bem, eu prometo.
Helena assentiu, ainda trêmula.
:_ amiga , Obrigada por ter ficado comigo no hospital... e por estar aqui agora.
:_ você é minha melhor amiga saiba que sempre estarei com você
Helena sorriu, emocionada, e foi até a janela. Fechou as cortinas, olhou pela rua deserta, conferindo se não havia ninguém. O medo ainda morava no peito — um reflexo do trauma que quase a matou.
Deitaram-se juntas, o abajur aceso, o quarto banhado por uma luz amarelada e suave. Helena tomou o remédio, e em poucos minutos seus olhos começaram a pesar. O sono veio lento, mas firme, e logo ela adormeceu — o corpo exausto, o coração ainda inquieto.
Na manhã seguinte bem cedo Tadeu acordou a esposa, avisou o que havia acontecido e como era de se esperar Amália sentiu muito medo, dor e também angústia
:_ eu ignorei os sinais, tinha um carro observando a Heleninha
:_ não meu amor, não pense nisso. vamos tomar um café e ir para são Paulo, Helena vai formalizar o boletim de ocorrência e quero estar ao lado dela
:_ claro que sim meu amor . como eu pude deixar minha filha ali ?
:_ não se torture meu amor, vamos tomar um café que vamos partir agora cedo
:_ pretende avisar o Otávio ?
:_ vou deixar um recado com a minha secretária, mas não há tempo de espera-lo
Enquanto se arrumava em silêncio, os cabelos ainda úmidos e o rosto levemente pálido. Vestiu uma blusa clara, simples, mas elegante — queria parecer firme diante da delegada, mesmo que por dentro ainda tremesse. Enquanto passava o batom, Maitê falava sentada à beira da cama, ajeitando a bolsa no colo. Maitê comentou sobre Leo o filho mais novo de Vera e namorado de Pilar do mesmo ciclo social das meninas
:_ eu lamento por Leo, que nunca foi a favor da mãe estar com Renato
Helena suspirou, ajeitando o brinco.
:_ Leo é um bom rapaz de verdade, assim como o filho mais velho dela. eu me sinto muito envergonhada que tudo isso esteja acontecendo
:_ você não tem culpa de nada amiga
Helena assentiu devagar, mas o olhar baixo denunciava a vergonha.
:_ eu sei, mas é constrangedor. Tudo isso se tornou um escândalo, e o pior é que ela me odeia por algo que nem existe mais.
Maitê cruzou os braços, firme.
:_ para ela agir assim, o Renato deve ter rompido de vez com ela...
:_ suponho que sim , a última vez que nos falamos ele me disse que estava arrependido e que não a-amava
:_ isso já era claro, ele só se envolveu com ela por puro interesse
lado de fora do quarto, Clóvis chamava por Helena. A voz dele, mesmo serena, trazia a firmeza de quem já havia enfrentado o mundo.
:_ Minha filha, seus pais já estão a caminho da capital.
Helena se aproximou, ajeitando a bolsa no ombro
:_ Fico feliz, vovô... mas não era necessário. Eu estou bem, de verdade. Queria ir trabalhar ainda hoje.
Clóvis falava enquanto tocava as mãos da neta
:_ Eu sei, filha. Você é forte — uma verdadeira dos Reis. Mas entenda o lado do seu pai. Ele precisa te ver, te acompanhar... é o instinto de um pai que ama. Espere um pouco, está bem?
Helena respirou fundo, vencida pelo carinho dele.
:_ tudo bem vovô
Maitê decidiu ir mais cedo ao trabalho, Helena confiava muito nela e entendia que naquele momento seria melhor estar no shopping e encontra-la depois . Clóvis pediu que o motorista a-deixasse no trabalho.
Ele observou as duas se despedirem e, por um instante, sentiu o coração apertar. A neta que ele sempre protegeu estava crescida — e enfrentando o mundo com uma coragem que lembrava toda uma geração dos Reis.
Passava um pouco das nove da manhã quando Bruno, acompanhado do advogado da família, esperava na recepção. A cada minuto, seu coração batia mais rápido. Do lado de fora, ele avistou Gabriela se aproximando com uma bolsa simples atravessada no ombro e a pequena Cecília nos braços.
A cena era comum — tantas mulheres, jovens e sozinhas, atravessando o mundo com seus filhos no colo — mas, para Bruno, aquilo teve um peso devastador. Uma lágrima involuntária escorreu de seus olhos.
De repente, ele foi tomado por uma crise de consciência. Pela primeira vez, enxergou com clareza todo o privilégio que sempre o cercara: nascera rico, fora protegido por uma família influente. Lembrou que sua própria mãe também engravidara jovem — mas já era casada com Estevão, tinha casa, babás, funcionários e uma rede de apoio que jamais deixara faltar nada.
Gabriela, não.
Ela viera de uma família simples, filha de Griselda, uma professora dedicada, e de Zeca, um homem trabalhador e honesto. Não vivia na abundância, mas era cercada de amor. E, graças aos pais, nunca estivera realmente sozinha. Griselda e Zeca faziam tudo o que podiam para ajudar a filha a criar Cecília, aquela garotinha doce e esperta que agora dormia no colo da mãe.
Bruno respirou fundo, sentindo o peito apertar enquanto as observava se aproximar.
“Por que você fugiu de mim, Gaby?”, pensou em silêncio. “Tudo poderia ter sido tão diferente...”Quando ela parou diante dele, o tempo pareceu suspenso. Cecília, no colo, o fitava com olhos grandes e curiosos. Era impressionante: a menina tinha o mesmo olhar doce da mãe, mas os traços fortes denunciavam o sangue da família paterna — especialmente de Joane, a avó que a renegava.
Cecília fora concebida em um momento de amor verdadeiro, uma paixão juvenil, mas sincera.
Ela era fruto do primeiro amor dos dois. E, no caso de Gabriela, o único.
:_ bom dia Bruno
:_ bom dia Gabriela
:_ como está?
:_ estou bem , esse é Marco o meu advogado
Gabriela franziu o cenho, um pouco sem graça.
:_ eu não sabia que precisava vir na presença de um advogado
:_ não, não precisa. Marco é amigo da família e além do mais é meu patrão
:_ hum, bom dia
Bruno puxou uma cadeira, num gesto cortês, e esperou que ela se sentasse. O clima era tenso, mas havia um cuidado silencioso em cada movimento dele.
:_eu poderia ter lhe buscado em casa.
:_ não era necessário, saindo daqui eu vou para o trabalho e meus pais também não iriam gostar
Bruno respirou fundo, tentando manter o controle das emoções.
:_ mas , se eu for mesmo o pai da Cecília, vou precisar conviver com ela. Não pense que eu serei ausente. Se eu fui nesses anos, foi apenas porque não sabia que ela existia.
As palavras o cortaram por dentro. E, ao mesmo tempo, perfuraram o coração de Gabriela.Ambos eram vítimas — de Joane e de Estevão.
Se por um lado Bruno não sabia da filha , sofrera em silêncio durante todos aqueles anos, longe do amor da sua vida, vendo Cecília crescer sem o pai ao lado.
Mas havia algo que a prendia — o medo. Ela recordava as palavras de Estevão, o tom frio e calculado. Ele havia prometido ajudá-la, garantir o bem-estar de Cecília, manter um auxílio mensal, o plano de saúde e até escola particular. Mas, em troca, Gabriela teria que se calar.
Bruno perguntou, com a voz baixa, os olhos fixos nela.
:_ por que ficou muda?
:_ nada. eu tenho que pedir desculpas... na verdade perdão pelo meu erro
Não demorou demorou muito para que fossem conduzidos a uma sala para colher o material.
Cecília, assustada com a picadinha, começou a chorar. Ela sempre chorava nas vacinas — e, ultimamente, com a saúde mais frágil e uma rotina cheia de exames, estava ainda mais sensível. Gabriela tentando manter a calma, a embalava com ternura. Uma mãe sempre precisa ser forte pelos filhos.
Cecília, assustada com a picadinha, começou a chorar. Ela sempre chorava nas vacinas — e, ultimamente, com a saúde mais frágil e uma rotina cheia de exames, estava ainda mais sensível. Gabriela tentando manter a calma, a embalava com ternura. Uma mãe sempre precisa ser forte pelos filhos.
:_ Pronto, meu amor... já acabou, viu? Já passou.
O tom doce e suave da voz dela parecia acalmar a menina. Bruno observava em silêncio — e o coração apertava.
Depois que terminaram a coleta, o funcionário informou
:_ O resultado deve sair entre quinze e trinta dias, senhor. Assim que estiver pronto, entraremos em contato.
Bruno assentiu, agradeceu e, antes que Gabriela se retirasse, falou com voz baixa:
:_ Eu queria conversar com você... a sós, se não se importar.
:_ eu preciso deixar a Ceci na creche e ir para o trabalho
:_ não vou demorar, mas preciso entender o que aconteceu
Gabriela olhava para Bruno, o rosto exalando arrependimento. Os olhos marejados diziam mais do que qualquer palavra.
:_ Bruno... eu realmente preciso voltar a trabalhar. Não tem sido fácil, e... eu não consigo te explicar tudo agora.
Bruno respirou fundo, a voz embargada de mágoa e nostalgia.
:_ Tudo poderia ter sido diferente, Gaby. Você fugiu de mim, sumiu... e me impediu de estar ao seu lado nos momentos mais importantes — principalmente em relação à Cecília.
Gabriela desviou o olhar, tentando conter as lágrimas.
:_ Eu sei... mas eu não vou conseguir explicar tudo agora. Só te peço que, um dia, tente me entender.
Ela ajeitou a bolsa no ombro e olhou o relógio, nervosa.
eu preciso realmente ir trabalhar
:_ Eu preciso ir, de verdade.
Bruno hesitou por um instante, depois perguntou, quase num sussurro:
:_ posso te acompanhar?
Gabriela respirou fundo. Por um momento pareceu querer dizer não, mas acabou cedendo, com um leve aceno.
:_ pode sim
Não demorou muito para que Tadeu e Amália chegassem à casa de Clóvis dos Reis.
Amália, sem conseguir conter a emoção, envolveu a filha em um longo abraço, lágrimas escorrendo pelo rosto. O cotovelo de Helena estava arranhado e arroxeado.
:_ minha filha
Helena, tentando acalmar a mãe, falou com voz firme, mas suave
:_ mamãe eu estou bem
exclamava Amália, ainda soluçando, tomada pelo medo e pela angústia de não ter conseguido proteger a filha.
:_ você está toda marcada !
Tadeu ajudou a esposa a se acomodar em um sofá. A mulher permanecia abatida, visivelmente angustiada e triste.
:_ não fique assim, mamãe. Olha, eu estou bem. São apenas arranhões. Já estou tomando os medicamentos que a médica passou e passando pomadas para amenizar as marcas na pele.
:_ e como foi que isso aconteceu filha ?
:_ eu estava saindo da faculdade, e foi no estacionamento
:_ foi um acidente e omitiram socorro , filha ?
Helena baixou o olhar. Clóvis, percebendo a hesitação da neta, aconselhou
:_ conte a verdade a seus pais, filha.
:_ mamãe, eu acredito que tenha sido uma namorada ou ex do Renato, meu ex namorado
O olhar de Amália mudou drasticamente. O pavor deu lugar a uma raiva intensa e silenciosa.
:_ que mulher infeliz
doutor Figueroa chegou a mansão de Clóvis dos Reis, pediu desculpas pela demora pois teve uma reunião ao amanhecer
:_ não tem problemas doutor
:_ me conte então o que aconteceu , peço que não me esconda nada
:_ queira nos acompanhar no escritório por favor doutor
Clóvis pediu que fosse servido café no escritório, Tadeu e Amália acompanharam a filha
Enquanto tomava um pouco de café, Helena começou a falar, sozinha, como se precisasse expulsar o que tinha engolido. O doutor Figueroa ouvia atentamente. Ela contou tudo — o estacionamento, o carro preto, o susto, o empurrão de João, a fuga. As palavras saíam atropeladas, cheias de raiva e adrenalina. Quando terminou, os olhos já estavam marejados.
Figueroa fez uma pausa e começou a perguntar, com calma
:_ foi a primeira vez que ela tenta algo ?
:_ sim. na verdade, ela me procurou alguns meses atrás no meu local de trabalho
:_ o que ela queria ?
Helena esforçava-se para recordar, envergonhada
:_ queria que eu me afastasse do Renato. Renato é um ex; terminamos faz tempo. Ela me afrontou, me chamou de coisas horríveis. Na hora não dei muita atenção; achei que fosse ciúmes e que ela não fosse fazer nada.
:_ tudo o que estou te perguntando é por que o escrivão vai perguntar e também preciso saber de tudo
:_ não tem problemas
:_ está disposta a irmos a delegacia e registrar o boletim ?
:_ estou sim , agora mesmo!
Figueroa estudou o caso por um instante, a expressão profissional.
:_ Acho melhor evitarmos uma denúncia direta, neste primeiro momento.
:_ como é possível ? essa mulher atentou contra a minha vida!
:_ Eu entendo o que você está sentindo, Helena. Mas precisa me ouvir com calma.
:_ Calma? Ela quase me atropelou, doutor! O que o senhor quer que eu faça, espere ela terminar o serviço?
:_ Eu não disse isso. Mas juridicamente, o que você tem ainda não é prova conclusiva. É um conjunto de indícios fortes, sim — o carro, a placa, —, mas a gente precisa transformar isso em evidência sólida antes de uma acusação formal.
Helena desviou o olhar, respirando rápido.
:_ Então o que eu faço? Fico de braços cruzados?
:_ De jeito nenhum. Você registra o boletim de ocorrência hoje mesmo, descrevendo tudo que aconteceu. Cita o nome da Vera como suspeita. A partir disso, a polícia abre o inquérito e pede as imagens das câmeras
Helena balançou a cabeça, tensa.
:_ Mas eu tenho certeza de que era ela, doutor. Eu vi o rosto.
Figueroa assentiu.
:_ E isso vai constar no seu depoimento. Sua convicção é importante. Mas se você acusar diretamente antes de a polícia confirmar as provas, a defesa dela pode alegar difamação ou denúncia caluniosa. E aí, em vez de resolver, você se coloca em risco jurídico também.
Ela ficou em silêncio. A fúria inicial deu lugar a um nó de medo e impotência.
O advogado suavizou o tom
O advogado suavizou o tom
:_ Helena, o sistema é lento, mas ele funciona. Você já tem o essencial — uma testemunha, imagens e um vínculo entre ela e o carro. Agora deixa que eu cuide do resto.
:_ eu só quero que ela pague pelo o que fez
:_ ela vai. Mas da forma certa. O que a gente não pode é dar a ela a chance de inverter o jogo.
:_ Eu preciso que isso ande com urgência. Posso ir agora mesmo?
:_ sim agora mesmo. e eu quero lhe acompanhar
Naquela altura, toda Campos de Outono e o Jardim do Éden já estavam sabendo que Tadeu precisou ir de urgência a São Paulo, mas ninguém explicou exatamente o que havia acontecido. Inês se preocupou por um momento, pensando que fosse verdade sobre Beatriz e que Helena estivesse realmente grávida. Ela se questionava enquanto digitalizava alguns documentos: ´´ será que ela realmente tá esperando um bebê ?
´"Será que ela realmente está esperando um bebê? E se algo aconteceu com meu sobrinho? Por que Tadeu precisou sair com tanta urgência?"
Preocupada com os rumores, Inês conversou com os funcionários e pediu que evitassem falar sobre o assunto, principalmente porque não sabiam o que de fato havia acontecido. Também pediu a Victor que chamasse seu irmão à sua sala.
:_ sei que é muito pedir, mas não fale nada a Luísa, pelo menos por enquanto. Não por ela, que é uma mulher maravilhosa, eu sei, mas por conta da tia dela.
:_ pode deixar, mas nessa hora toda são Jorge deve estar sabendo
:_ isso é verdade, me preocupa sabe?
:_ não se preocupe. com certeza não foi nada sério se não o patrão teria nos comunicado
:_ Inês, eles sairam hoje de manhã foi algo de última hora
:_ Será que é verdade da Bia? E minha cunhada… estará grávida?
:_ eu acho que não, não sei... eu tenho motivos para desconfiar dela
:_ eu também, bem vamos pedir que tudo esteja bem
:_ vamos
:_ Victor peça ao meu irmão vir aqui por favor, eu quero falar com ele
:_ Otávio deve estar muito preocupado
:_ eu também acho, por isso quero acalma-lo
O carro parou em frente à delegacia. Helena respirou fundo, sentindo o frio na barriga misturado com a determinação. João estava encostado na parede do lado de fora, braços cruzados, observando cada passo dela. Ao vê-la descer, sorriu discretamente, tentando transmitir segurança.
:_ Helena!
:_ obrigada por estar aqui
:_ eu não iria deixa-la sozinha
Tadeu saiu do carro logo atrás, franzindo o cenho, mas observando João com atenção.
:_ papai, esse é João. meu professor e também amigo. foi ele quem me ajudou
:_ muito obrigado , meu rapaz. não sei o que faço para agradecer por ter protegido a minha filha
:_ não tem o que agradecer, Helena é uma amiga , uma aluna muito dedicada e uma pessoa importante para mim.
Amália tentava encorajar a filha
:_ Vamos filha ?
Elas entraram juntos. O som do piso frio ecoava pelo hall da delegacia. João permaneceu ao lado dela, oferecendo apoio silencioso enquanto Helena registrava sua entrada.
O corredor parecia comprido, mas Helena sentiu que não estava sozinha. seus pais estavam lá — firme, calmo, um ponto de apoio em meio ao turbilhão que ainda estava por vir.
João encostou-se na parede do corredor, os braços cruzados, observando Helena entrar na sala de depoimentos.
Do lado de fora, João olhou para Tadeu e sorriu levemente. O pai de Helena assentiu, em silêncio, agora realmente confiando naquele homem que, em poucas horas, mostrara coragem, atenção e dedicação à filha.






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